VIDA ENCLAUSURADA

Ante a notícia de que uma pessoa estava há bons anos sem sair de casa, sendo até objeto de inquérito policial, disseram-me que o fato não é tão raro assim. E indicaram-me o nome e endereço também de uma mulher que vive sob igual condição. Deu-me entrevista, mas desde que ficasse no anonimato.

Quando mocinha pretendia ingressar na ordem religiosa da Ordem Carmelitas onde as Irmãs vivem enclausuradas. Mas os pais não deixaram. Revoltada nunca mais saiu da casa. Enquanto as irmãs passeavam, frequentavam cinemas e bares, casaram, ela, amuada, no lar, quando muito assistia a tevê. E assim passaram quase vinte anos. Nunca sequer namorou. Não comprava vestidos, sapatos. Usava-os os mais modestos, surrados, das irmãs. Uma ou duas vezes foi ao dentista, só. Os pais, já idosos, e demais familiares conformaram-se com a atitude dela, por isso nem consideravam algo extravagante. Nunca pensaram em submetê-la a exame psicológico.