A PRAÇA

“Hoje eu acordei com saudades de você,

Beijei aquela foto que você me ofertou,

Sentei naquele banco da pracinha só porque

Foi lá que começou o nosso amor”.

Ouvindo esta antiga marchinha do Carlos Imperial, reportei-me aos longínquos anos quarenta quando, numa cidade do interior paulista a moçada se reunia na Praça da Igreja, às noites de domingo.

As moças davam à volta na praça no sentido horário e os rapazes no anti-horário para irem se encontrando e “olhando”

Naquele tempo não se dizia “paquerar” nem mesmo “flertar”. Era “olhar”.

Depois de muitas olhadas o rapaz vinha andar ao lado da garota e então passavam para a rua interna que era onde circulavam os namorados.

“Beijei aquela árvore tão linda, onde eu

Com meu canivete, um coração desenhei.

Escrevi no coração o meu nome junto ao seu

E meu grande amor então jurei.”

Será que os namorados de hoje ainda fazem essas coisas?

”O guarda ainda é o mesmo que um dia me pegou

Roubando uma rosa amarela pra você.”

Os homens presenteavam as namoradas com flores. Não sofisticados buquês de floricultura, mas rosas amarelas roubadas do jardim.

Quando o guarda via dava um kláu, mas não tinha razão. Aquela flor seria guardada com muito carinho dentro do livro de orações. Ali secaria e permaneceria por muito tempo. Teria vida muito mais longa do que as que permaneceram no pé.

Nos bancos espalhados, sentavam-se os casais. Vinham tomar um ar, ouvir música e, sobretudo vigiar os filhos (principalmente as filhas).

Os rapazes daquele tempo não tinham carro próprio e mesmo que o pai possuísse um, eles nem sonhariam em pedir emprestado para dar uma volta com a namorada.

Só pensar nisso já era pecado mortal.

Às nove, quando muito dez horas da noite, a banda descia do coreto.

Tudo silenciava, todo mundo ia pra casa, parte da iluminação da praça era apagada e até o guarda ia dormir.

Ficar ali por quê se não tinha mais ninguém na rua?

”E a gente vai crescendo, vai crescendo e o tempo passa.”

E como passa!

De repente tudo ficou lá pra trás e à gente só resta a nostálgica constatação:

“Bons tempos, aqueles!”

Ou será que o bom mesmo era ter quinze anos?

Maith
Enviado por Maith em 07/09/2007
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