Tarde silenciosa
Naquela tarde sentei-me numa pedra na curva da estrada, de onde podia se ver a ponte velha. Fiquei ali por algumas horas e quando se aproximava a noite, a paisagem foi ganhando cores um tanto distintas... Os pássaros se aninhando nas matas em pura algazarra, pareciam anunciar o momento mágico que se aproximava. Olhei o céu e sorri de volta para a lua crescente que parecia fazer companhia à brilhante vespertina, estrela errante que reinava absoluta naquele céu furta cor.
Olhei a ponte vazia... carecia de cuidados... ou ninguém mais poderia por ela atravessar. Neste momento, algumas lembranças me fizeram marejar os olhos. Senti saudade de pessoas caras que se foram repentinamente. Atravessaram pontes antes que estas desabassem e agora eram só silêncio, como as aves emudecidas que pareciam ausentes quando empoleiradas nas copas mais altas das negras silhuetas que faziam contraponto ao céu magenta daquele lugar.
Lembrei-me dos encontros que não se deram verdadeiramente, das promessas que não se cumpriram, dos amores que ficaram aspergidos no espaço, tal qual fragrância de flores em noite sem vento.
Agradeci silenciosamente o milagre dos afetos mútuos numa breve prece.
Levantei-me e voltei pela estrada que ainda não havia mergulhado no breu.
Entrei de mansinho pela porta da cozinha onde o cheiro de café era um convite para o aconchego que a casa do antigo rancho oferecia.
(Canção de fundo: Tardes de Lindóia de Francisco Petrônio)
Cláudia Machado