História da Igreja Católica no Brasil
De 1500 a 1889, com a proclamação da República, houve muitos acontecimentos na Igreja do Brasil, no que chamamos período do patriarcado. De 1891 a 1934, chamamos de restauração católica, ou neocristandade. De 1934 a 1942, essa restauração completou-se, com a participação do Cardeal Leme do Rio de Janeiro. De 1942 a 1952, houve uma nova orientação católica.
No caso brasileiro, o Concílio Vaticano II é mais conseqüência do que causa. Daí o destacamento da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) no Concílio. De 1952 a 1965, começa a surgir os agentes da Igreja popular, que se aproxima das classes populares de uma outra forma, até então não utilizada. De 1965 a 1979 acontece uma afirmação dos trabalhos da Igreja nas camadas mais sofridas. De 1979 em diante, começa uma crise da Igreja popular no Brasil, com a eleição do Papa João Paulo II.
De 1500 a 2002
Nesse período, as práticas religiosas não tem nada a ver com o catolicismo oficial. É o período do patriarcado. As nomeações dos bispos e padres estavam sob o domínio da Coroa. Qualquer documento da Igreja, tinha que ter o imprimatur da Coroa.. Em 1822, com a independência, havia sete bispos eram administradores e não titulares das dioceses. Os padres, na maioria deles, eram das classes populares, eram padres sem cultura, sem conhecimento. Assumiam pastorais diversas no sertão e quando eles morriam, os seus filhos (filhos dos padres), assumiam a função do pai.
Com o Vaticano I, vemos o inimigo principal: a modernidade. A unificação dos Estados europeus, o avanço do liberalismo econômico, político, social e religioso.
Em 1864, houve a primeira organização internacional socialista. Estes dois pontos foram fortes para a Rerum Novarum. E no Brasil, desde de 1858, com a fundação do Colégio Pio Latino, até 1910, houve a preocupação de formar o catolicismo brasileiro mais romanizado. O que as CEBs (Comunidades Eclesiais de Base) fizeram após 1960, está ligado ao catolicismo antes da romanização do catolicismo brasileiro. Foi um resgatamento do catolicismo do passado, agora com uma cara nova.
No final do séc. XIX, muitas congregações religiosas começam a chegar ao Brasil, para levar a diante a romanização. E com a proclamação da república, que era positivista, rompe-se Estado e Igreja. E esse rompimento foi feito pelo Estado. E a república do Brasil é anti-religiosa, ou mais ainda, anticlerical.
A Igreja tem agora dois caminhos: aproximar-se das camadas populares, seguindo o Pe. Júlio Maria, ou lutar para recuperar parte dos privilégios perdidos. E a Igreja faz opção pela segunda parte. Só em 1961, que D. Sebastião Leme, vem combater o anticlericalismo, incentivando a recatolização da sociedade brasileira. Criou as universidades católicas. Ele começa em 1921, no Rio de Janeiro, com auxiliar de D. Arco Verde. Em 1922, ele fundou o instituto D. Vital. Um lugar para formar a inteligência católica. Nesse momento, a revolução socialista de 1917, praticamente ainda era sentida por todos. A partir daqui, todos os países europeus adquiriram o partido socialista comunista.
O Brasil entra na modernidade. Acontece a Semana de Arte Moderna em São Paulo. Houve o início do movimento militar, para acabar com a política: café com leite. E a Igreja nesse período está deslocada da vida pública. Ela dá um salto, em 1930, quando Vargas chega ao poder. Pois nesse mesmo ano, D. Leme recebe o chapéu cardinalício e acontece no Rio de Janeiro, em maio, a inauguração da estátua do Cristo Redentor. E na inauguração, o Cardeal Leme faz um pronunciamento revolucionário, deixando Vargas preocupado. Diz o Cardeal Leme mais ou menos isto: “O Estado reconhece o Deus da Igreja, ou a Igreja não reconhece o Estado”. A partir daqui, Getúlio Vargas começa a tratar a Igreja com mais cuidado.
No ano de 1933, Vargas convoca o ano da Constituinte. Os padres queriam o partido democrático católico (PDC). E D. Leme dá uma aula de política aos Padres, criando a liga eleitoral católica (LEC). Com isso, em 1934, a Constituição sai e tem a cara da Igreja Católica. E no ano seguinte, em 1935, surge o estatuto da ação católica brasileira.
Getúlio Vargas criou o ministério do trabalho, do mesmo modo das leis dos sindicatos socialistas italianos. Um tipo de sindicalismo assistencial. O primeiro ministro foi Lindolfo Collor, avô de Fernando Collor. Assim, fica completa a realidade chamada restauração.
Há uma forma única de pessoas dentro da Igreja Católica que pensam que filosofia e teologia são só de Agostinho e Tomás de Aquino, baseadas em Platão e Aristóteles, um modo clássico de acreditar: Cristandade. E no mundo da cristandade, as pessoas já nasciam cristãs. Eram pessoas leigas, ignorantes, não sabiam nada, mas nasceram dentro das fronteiras cristãs. Os que estavam fora eram pagãs.
A partir desse ponto, começa a surgir o movimento da neocristandade. A sociedade já não era mais totalmente cristã. Mas acreditava-se que: atingindo as instituições, atingiria toda a sociedade. E a Igreja estava dentro de um estilo medieval. E até hoje ela ainda não se adaptou. Falar de pastoral de conjunto ainda é um grande desafio.
Surgem duas realidades novas: A expansão do integralismo, (aqui entra Pe. Hélder Câmara como adepto). E a ação nacional liberal (ANL).
De 1939 a 1945, acontece a II grande guerra mundial. O objetivo era acabar com a mordomia, o socialismo russo era a grande ameaça para os alemães. E isso levou 20 milhões de russos perderem suas vidas. Bem mais do que os judeus nos campos de concentração da Alemanha.
No Brasil, foram comemoradas pelas forças armadas, as vitórias japonesas e alemãs, ou seja, o presidente apoiou o nazismo. A população brasileira, mal sabia de tudo isso. Nesse período, morre o Cardeal Leme. E crescendo as industrias, cresciam as periferias. E começa haver o desafio da pastoral urbana. Começa a surgir o protestantismo. Com o final da II guerra, há uma divisão do mundo sobre zonas influentes. Todo Leste europeu torna-se socialista. Aqui no Brasil, acontece a queda de Vargas. Os generais derrubam o presidente e aprendem nos EUA (Estados Unidos da América), o modo de fazer governo e criam a Escola Superior de Guerra (ESG).
A partir de 1947, surge a guerra fria. A URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) salvaram-se pela bomba atômica. E era mostrado para o mundo o seguinte: EUA = democracia, cristianismo, liberdade, paz, justiça... URSS = totalitarismo, cortina de ferro, ateísmo, escravidão, violência, injustiça... Com isso, a Escola Superior de Guerra (ESG) organiza tudo dentro do sistema de guerra fria, construindo a Lei de Segurança Nacional (LSN). E começam a criar inimigos, onde eles não existism. A URSS era a vilã e os EUA eram os heróis. Coisa absurda e arquitetada.
De 1948 a 1950, surge a ação católica: o JAC, JEC, JIC, JOC E JUC. Os políticos começam a militar através da ação católica. Pe. Hélder Câmara, ia muito à Roma para instituir a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Aqui há uma notícia curiosa: o Cardeal Giovanni Battista Montini disse ao Pe. Hélder Câmara: Você está vindo tanto à Roma. Por que? Está querendo ser bispo? E o Pe. Hélder Câmara retrucou: E você, que não sai daqui de Roma, está querendo ser papa? E depois, quando o Pe. Hélder Câmara foi eleito bipo e o Cardeal Giovanni Battista Montini, foi eleito Papa, tornaram-se grandes amigos.
Na segunda metade da década de 50 temos: a sindicalização política e a Igreja Católica, mas não coligados, e quem chagava primeiro, fundava o sindicato. Surgem as ligas camponesas de reforma agrária. O método de alfabetização de adultos, com Paulo Freire, começa acontecer em Angicos, no Pernambuco. Dom Eugênio Salles começa um trabalho criando a SUDENE e pleiteia junto à Roma para que as religiosas pudessem distribuir a Eucaristia. Dom Agnelo Rossi aplica o catecismo popular em Barra do Piraí, Rio de Janeiro e trazia um conteúdo defensivo, uma pastoral defensiva contra os evangélicos.
Nesse período, começa a surgir o desenvolvimento com JK. E a Igreja vê isso com bons olhos. Para acabar com a fome, a pobreza, a miséria, era preciso abrir as portas para o capital estrangeiro. JK e até hoje, há uma confusão entre: crescimento e desenvolvimento. E é nessa época que surge o Movimento de Educação de Base (MEB) e União Nacional dos Estudantes (UNE).
Nos anos 60 surge a Central Geral dos Trabalhadores (CGT). A CNBB está totalmente sintonizada com as mudanças de base. Isso deixa claro que as mudanças dentro da Igreja não aconteceram com o Vaticano II, daí a razão da importância que teve a CNBB no Concílio.
De 1962 a 1965, acontece o Concílio Vaticano II. Aqui, as reformas já estavam acontecendo desde 1960. Pois neste ano, nasce a TFP em Amparo, São Paulo. Sai da ESG o general Golbey do Couto e Silva. E em 1964, a CNBB agradece os militares em livrar o Brasil do comunismo. Ou seja, ela estava bem ao lado dos militares. Surge também nessa época o movimento do desenvolvimento progressista e o movimento conservador.
O Concílio Vaticano II define que a Igreja é o povo de Deus e apresenta o povo de Deus como povo sacerdotal. Isso para os poderes civis foi motivo de certa cautela no relacionamento Igreja-Estado. E dentro do regime militar, Dom Fernando Padin começa criar um documento de segurança nacional.
Em 1968, na cidade de Medellin, na Colômbia, começa a surgir as CEBs e a opção preferencial pelos pobres. Essa realidade vai avançando, e em 1975, surge a Comissão Pastoral Operária (CPO), o CIMI E A CPT. A partir deste ponto, começa a surgir os documentos sobre os problemas sociais brasileiros e as pastorais sociais. Uma Igreja bem mais próxima da camada pobre e sofredora da sociedade. Dentro dessa realidade, começa a nascer a Teologia da Libertação (TL). O primeiro a usar a TL foi Rubem Alves, quase junto com ele, Gustavo Gutierrez e Hugo Assmain.
Nesse período de perseguição pelo regime militar, a Igreja mantém a força total a favor das pastorais sociais. É nesse período que os padres, os agentes de pastorais eram visados. Muitos foram torturados e outros mortos. Havia uma regra em que os militares diziam que os bispos não poderiam ser mortos, pois a repercussão seria muito grande, chegando a âmbito internacional, o que não acontecia com o baixo clero.
Em 1978, acontece a assembléia da Conferência Episcopal Latino Americana (CELAM) e no próximo ano em Puebla, surge o documento de Puebla, assinado pelo CELAM, defendendo a opção preferencial pelos pobres. No ano de 1979, foi eleito o Papa João Paulo II. E a partir daí, houve um retrocesso na caminhada religiosa da Igreja do Brasil e da América Latina. Houve uma onda de forte romanização na Igreja, chegando até nossos dias.
O regime militar é inimigo claro e definido daqueles que lutam pela liberdade de ação. Havia nessa época o bipartidarismo, Arena se transforma em PDS . Saíram pessoas escolhidas para fundarem o PTB, pois o Brizola estava voltando o exílio e eles tinham medo dele retomar o PTB. O MDB forma o PMDB E PPB. Os antigos militantes do PTB, agora juntos com Brizola, criam o PDT. O setor popular das pastorais da Igreja, as bases trabalhistas, os sindicatos, formam o PT. Aqui a Igreja começa a ter graves problemas com os militares. E em muitas dioceses surgiram as cartilhas sobre a política.
Nos anos 80, ocorre em muitas dioceses a paroquialização das CEBs. E a CEBs cresciam, mas não crescia o número de pessoas dentro delas. A linguagem era muito politizada, não foi levado em conta que o povo tem a religião como o que o que ele tem de melhor e a política como o que ele tem de pior. Falar de política é uma necessidade, mas saber falar também é. O Papa Paulo VI já dizia: “O pior político é aquele que odeia a política”. Mahatma Gandhi pediu ao povo que fizesse jejum pela libertação da índia e o povo fez. Se ele tivesse pedido ao povo para que fizesse greve de fome, com certeza não teria conseguido. A linguagem é muito importante. É preciso usar uma linguagem religiosa para falar de política. O Cristo fez isso e com muita precisão.
Aparece o Estado de bem-estar. O neoliberalismo ou Estado nacional, ou seja, o mínimo é cuidar da educação, saúde e previdência. As privatizações são sinais dessa realidade. Pois numa sociedade capitalista, o capital está acima das questões sociais e isso é muito grave. Não existe conversão pessoal no mundo do capital. Quando falamos de opção pelos pobres, não pode ser entendida como opção moral. Pois o capitalista não faz o que quer, mas o que o capital exige. O empresário pode ser muito bondoso, religioso, católico e praticante, mas ele faz o que o capitalismo exige, ou é destituído do mundo capitalista. Daí a definição de que não há nesse mundo conversão individual. Estamos aqui, dentro de um sistema gigantesco, mas de fora para dentro. O sistema negocia vidas humanas a cada minuto. Como exemplo: a morte e a fome dos africanos, a eliminação dos palestinos, a retaliação aos afegãos, a seca nordestina, a fome brasileira, etc. Mais detalhes, confira: Doc. CNBB 68, Eclo 34,18-22.
É isso aí!
Acácio Nunes
Bibliografia = A Política na Igreja do Brasil, TANGERINO, Márcio R.P., editora Alínea, 2002.
Doc. CNBB = nº 68