Família; Abordagem histórica
O termo família vem do hebraico, bêt’ab = casa do Pai, e o nome indicava o caráter patriarcal da família hebraica. A família era a menor unidade social abaixo do clã e da tribo. A família do AT incluía todos os membros do mesmo sangue ou que viviam numa habitação comum. Incluía, assim, o marido e o pai, chefe da família, sua esposa ou esposas e concubinas, seus filhos, escravos e servos, clientes e os hóspedes estrangeiros, filhas e viúvas ou repudiadas, os filhos e filhas solteiros. Famílias tão numerosas aparecem nos relatos patriarcais do Gn. A família era uma unidade religiosa.
A família portanto, era a comunidade que vivia num único lar, ou vinculadas a um lar, constituída pelo matrimônio, os filhos e eventualmente por outros membros unidos por adoção legal ou por vínculos de sangue. Na família cada membro desempenhava seu papel e juntos criavam uma cultura comum. A partir de lugares e épocas, o conceito de família se ampliava ou diminuía. Em Israel, como já vimos acima, abarcava várias gerações, ramos colaterais, criados (o mesmo de Roma), e temporariamente os hóspedes. De todos os modos, era a unidade social mais reduzida; mais ampla era a estirpe, e a maior de todas era a tribo. A família também era, em certo sentido, uma unidade moral. O próprio Javé punia o pecado até a terceira e a quarta geração da família (Ex 20,5ss.).
Para entender a história da família é necessário, reconhecer que a configuração desta última esteve submetida a uma mudança dinâmica desde às suas origens. A família romana era o centro das relações domésticas. Mas se tratava de família que não correspondia ao nosso modelo de família. O melhor é traduzir o termo latino por casa, algo assim, como uma máquina para adquirir e manter a riqueza. Na família romana se integravam a esposa, os filhos e o cabeça de todos eles, o paterfamílias.
Os povos germânicos primitivos que sucederam à autoridade romana tinham três métodos legítimos de contrair matrimônio: por rapto, por compra e por mútuo consentimento. O concubinato, muito freqüente, não era mal visto; também se permitia o divórcio como possibilidade de casar novamente, sobretudo durante o primeiro ano de matrimônio, e particularmente no caso dos varões.
No reinado de Carlos Magno, a família se havia convertido num grupo residencial baseado essencialmente na relação paterno-filial, e já não dependia da classe social a que se pertencia.
A partir desta fase, a família começa, de modo organizado e sistemático, uma instituição humana, simultaneamente natural e cultural. A família começa apresentar algumas funções muito significativas e determinantes para as sociedades e os indivíduos, funções universais (procriação), funções cambiantes (economia, política, religião, educação, proteção aos idosos, crianças e enfermos).
Na maior parte das culturas do mundo, a família institucionaliza as relações biológicas intergeneracionais, ampliadas e perpetuadas por meio de casamentos entre grupos de parentesco. Uma das funções da família consiste em canalizar o potencial de procuração da sexualidade de modo socialmente organizado, a fim de que a seguinte geração se forme e se socialize dentro de estruturas estáveis.
Sobre a família européia pesam séculos de tradição burguesa e rural, preconceitos ancestrais de tipo patriarcal, patrimonial e, às vezes, sacral; um sistema multifuncional, fechado, de funcionamento laboral, econômico, assistencial, educativo e de grande poder.
Nos tempos atuais, a família tem sido posta em questão pelas amplas, profundas e rápidas transformações da sociedade tecnológica e da cultura. Muitas famílias vivem esta situação na fidelidade àqueles valores que constituem o fundamento do instituto familiar. Outras tornaram-se incertas e perdidas frente a seus deveres, ou ainda mais, duvidosas e quase esquecidas do significado último e da verdade da vida conjugal e familiar. Outras por fim, estão impedidas por variadas situações de injustiças, de realizarem os seus direitos fundamentais.
Consciente de que o matrimônio e a família constituem um dos bens mais preciosos da humanidade, a Igreja Católica procura fazer chegar a sua voz e oferecer a sua ajuda a quem, conhecendo já o valor do matrimônio e da família, vivê-lo fielmente, a quem, incerto e ansioso, anda à procura da verdade, e a quem está impedindo de viver livremente o próprio projeto familiar. Sustentando os primeiros, iluminando os segundos e ajudando os outros, nas mais diversas maneiras.
É isso aí!
Familiaris Consortio = Ed. Loyola - 1994
Acácio Nunes