O ataque é a melhor defesa
O professor entrou pisando forte. Sabia que o desafio era grande, atirou os livros sobre a mesa e olhou a sala com olhar de predador. Trinta alunos, distribuídos em seis fileiras de cinco, dez meninas e vinte garotos, que pareciam perdidos, olhando seus movimentos impacientes, tinha ciência de que era estratégia dos alunos para enlouquecê-lo também “A melhor defesa será o ataque” pensou.
Escreveu seu nome; “Prof. Euzébio Celestino – História.” No meio do quadro acrescentou em letras enormes, “O primeiro que fizer gracinha vai ajoelhar no milho” ninguém saiu do lugar, se concentraram olhando para a frente, como cãezinhos domesticados, mãozinhas sobre os cadernos, e semblantes pacifistas. Euzébio apagou parte do que escrevera, deixando apenas seu nome. Trocou o giz branco por um colorido e acrescentou um titulo; “O cangaço”
— No sertão do Nordeste brasileiro violentas disputas entre famílias poderosas e a falta de esperanças em dias melhores que pudessem livrá-los da grande miséria levou ao surgimento de bandos armados, gerando o fenômeno do cangaço. Entre as figuras mais famosas encontra-se o Capitão Virgulino ou Virgulino Ferreira da Silva vulgo Lampião! Alguém já ouviu falar desse sujeito? – Indagou olhando o semblante assustado de uma aluna que usava óculos de graus fortes.
A aluna baixou a cabeça, um garoto olhou para o outro, o outro para o um e voltou á mesma posição. O silêncio permanecia, para irritação do professor que seguia falando do Cangaço sem a participação da sala. Depois de dissertar sobre os motivos da entrada de Lampião para aquele mundo hostil, falou do Padre Cícero e do responsável pelas imagens que temos do tal Virgulino e seu bando, o turco Benjamim Abraão. O horário estava prestes a terminar, mas ninguém dizia uma só palavra, não se manifestavam de modo algum. O professor engoliu seco e pensou coisas indevidas, mas precisava dizer algumas.
— Escutem aqui seus retardados, mongolóides, debiloides e filhos da puta! Eu estou aqui para substituir o professor Diniz, vou ficar o tempo que for preciso enquanto ele se recupera dos nervos! Sabiam que ele está no hospício por causa de vocês? – Falou apontando o dedo em todas as direções. — Se não sabem, que fiquem sabendo! Entenderam? Mas eu, eu não sou ele, eu não sou ele! Não vou tolerar indisciplina, muito menos desdém! Eu quero participação na aula, mas participação com civilidade! Entenderam? Se não entenderam, entendam que se tentarem me mandar para o hospício, eu posso até ir, mas antes, vou mastigar a cabeça de vocês, como se mastiga um torresmo!
Euzébio entrou em surto. Crendo que a turma responsável pelo disparate do outro professor, se calava para afrontá-lo. Ninguém se movia sobre as cadeiras, apenas se olhavam timidamente um para o outro como se fossem robôs sem entender nada. O professor olhou no relógio, estava ainda mais irritado parecia falar com as paredes, Então loucamente, chutou sua própria mesa, rasgou um livro que estava aberto, bateu a cabeça no quadro, jogou a garrafa de água pela janela, mordeu o braço direito, bateu a porta e saiu. Pouco depois voltou manso, acompanhando pela Diretora, se desculpando na língua dos sinais, por haver confundido as salas.