OLHOS AVERMELHADOS

Certo dia, enquanto me ensinava a voar, me recordo que meu pai me deixou na casa de uns amigos dele, seria meu primeiro grande vôo sozinha, minha primeira viagem sem ele ou minha mãe.

Naquela manhã, enquanto me preparava para bater asas, ouvi seus conselhos de pai, que desprende o filho do ninho pela primeira vez, e que de alguma forma precisa acreditar que é chegado o momento, mesmo cheio de suas dúvidas interiores.

Ao sair, depois de colocar-me a sua bênção de pai, o vi de olhos avermelhados, como quem havia deixado o shampoo cair nos olhos durante o banho, ou passa o dia inteiro na piscina.

O olhei com ternura naquela época, me questionando o motivo de seus olhos avermelhados, e hoje, ao me olhar no espelho, vejo o reflexo de seus olhos sobre os meus, a cada novo vôo que tenho que alçar, a cada abraço de despedida que preciso lhe dar, a cada até as próximas férias que preciso dizer-lhe...

Os olhos avermelhados de meu pai, foi a forma mais tênue e doce de dizer "minha filha siga teu rumo, aprenda a voar, dê teus próprios passos, faça teu caminho, e não se esqueça de que sempre terá para onde voltar"...

Meus olhos avermelhados, repletos pelo brilho das lágrimas que escorrem incontrolavelmente, são a minha maneira de dizer, que ainda hoje, depois de tantas partidas, ainda dói como na primeira vez, cada uma de nossas despedidas...

Apesar de que agora, mesmo sem filhos, eu já consiga entender o motivo de teus olhos avermelhados.