Perdão, amor...

Sei que eu não tenho mais volta à normalidade. Tu sabes, amor... Tentei ser uma pessoa normal, tentei ser uma mulher normal, uma dona de casa normal, tentei aceitar uma vida normal, tentei ser uma mulherzinha normal, parada estática. Juro, eu tentei, amor, mas não consegui. Adoro dar loucas risadas escandalosas as quais tu odeias, amo discutir política doidamente e digo palavras de baixo calão como um caminhoneiro insano, segundo as tuas próprias palavras, amor. Não gosto das lidas do lar, sou desleixada, desligada, distraída, todas as palavras com D, mas sou também demais.E o arroz vive queimando, o feijão azeda, as torneiras ficam meio abertas e as louças ficam meio sujas, pois me distraio com a vida me falta ao teu lado. Amor, as minhas gavetas não são bagunçadas, elas são tão livres quanto eu gostaria de ser, mas esse amor maldito que sinto por ti, mantém-me presa em argolas imaginárias de ferro.

Não consigo ser normal, não consigo ser feliz sendo a tua mulherzinha. Existe tanta vida lá fora, há tantas viagens que quero fazer, há tantos homens, tantos corpos novos para eu experimentar ainda. Sou bonita, amor mesmo que nunca me elogies, mas os olhos dos outros me dizem o que tu me negas, Há noite com as suas estrelas e os bares me acenando e tem músicas para dançar muito, sei amor, tu não podes, pois vives cansado. Não consigo amor, perdoe-me, não sei ser normal, não sei pertencer ao um homem, principalmente, um homem que só trabalha.. E há essa cratera que me consome inteira desde sempre, ela foi me levando de ti. Primeiro, me jogou para o mundo virtual, depois foi me lançando para o real e a vida (aquela antiga) que eu vivia antes de ti, começou a me abanar a mão. E eu senti nostalgias de sair sozinha na noite e sentir os olhares dos outros para ouvir os elogios( mesmo que) mentirosos que tu nunca me dizes.

Sim, amor, a tua dedicação ao trabalho, os teus eternos problemas com os filhos, com a ex-mulher e o teu cansaço infindável me enfastiaram. A minha cratera começou a me abraçar e a consumir-me , diariamente. Não consigo mais levar uma vida de casal, essa pseudo-normalidade me corrói como a maresia de uma casa exposta há muito tempo ao mundo marítimo. Sinto-me como se eu fosse perdendo bocados de mim pelos lugares em que andamos e o pior os artefatos perdidos não são mais encontrados dentro de mim . Amor, eu sou um bicho agreste, selvagem, livre e não gosto de regras. Já fui um pássaro preso numa gaiola e amava, doidamente, estar assim. Mas, acabou e eu nunca mais quis ficar presa. Eu cogitei, no auge da minha paixão por ti, ser normal,porém não consigo. Não sei ser uma sombra que fica a tua espera para voltar a ser luz e sol quando tu chegas. Amor, eu sou a luz e o sol, continuamente, eu me basto.

12/11//2019

Marisa Piedras
Enviado por Marisa Piedras em 12/08/2018
Reeditado em 24/12/2019
Código do texto: T6417268
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