A DANÇA DO GUARDA-CHUVA.

Acordei indisposto, corpo dolorido, coluna latejando, frio intenso. A passos preguiçosos segui meu curso diário, lavei o rosto, escovei os dentes, me troquei, e fui para a cozinha fazer o café, maravilhoso café de aroma agradável, e quando se está chovendo, a impressão é que o aroma parece se intensificar. Do lado de fora, uma chuva fina caia, um friozinho gostosamente insuportável, tudo de bom, dia perfeito para ficar em casa, quieto, lendo um bom livro debaixo dos corbetores... Mas... Só que não... Infelizmente não, lembrei-me de repente - para minha infelicidade - de certo compromisso no centro da cidade, um amontoado de coisas a fazer, um monte de lugares para ir, nada bom… Isso não é nada bom… Definitivamente nada bom. Tentei argumentar com minha esposa a respeito, no objetivo de fazê-la desistir, tentei convencê-la a ficar em casa, nada feito, pedido indeferido, não havia outra solução. A sentença era aquela, e, seu cumprimento teria que ser imediato, afinal, verdade seja dita, aquele dia, era o único disponível para fazermos o que deveríamos de fazer. Imagino que você já teve dias assim, dias em que, ou você faz determinada coisa, ou se perde a oportunidade. Essa era a minha situação, mesmo com chuva, com frio, com dor, e, principalmente, 'preguiça', não havia outra escolha a não ser enfrentar o desafio e cumprir a sentença.

Escolhi ir de carro, ultimamente eu tenho usado o transporte público - uma vez desempregado - tenho prioridades com a economia, entretanto, dadas as circunstâncias climáticas, optamos por ir de carro. No caminho, minha esposa conversava sobre os assuntos do dia, sobre as coisas que deveríamos fazer e tal, o trânsito já não é dos melhores, em dias de chuvas então, fica pior, mas o pior, ainda estava por vir.

Deixei meu carro no estacionamento de sempre, estacionamento esse, extremamente lotado, foi um sacrifício encontrar espaço, conseguir entrar no estacionamento, e, conseguir deixar o carro devidamente estacionado. Passada essa parte, de guarda-chuva nas mãos, grudado em minha esposa, saímos para resolução daquilo que era nosso propósito ali. Algo aconteceu então, e foi o que deu título a essa crônica, haviam tantas pessoas no centro da cidade, tantos guarda-chuvas de diferentes tamanhos e cores, que começou uma verdadeira dança dos guarda-chuvas. Uns para esquerda, esbarra, levanta, abaixa, gira para o lado, calçada estreita, fecha, abre rapidamente, abre, fecha outra vez, abre pela enésima vez, e novamente para esquerda, outra para a direita, bate aqui, abaixa ali, dona Maria sai resmungando, seu José deu risadas. Assim foi aquela manhã, um martírio, um suplício, enquanto a dança dos guarda-chuvas acontecia, um verdadeiro espetáculo de movimentos e cores no decurso de um dia frio e chuvoso, conseguimos driblar os obstáculos e resolvermos as pendências, e o dia, bom… Esse continuou frio e chuvoso.

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 12/08/2018
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