_______________“HOJE EU ACORDEI COM SAUDADES DE VOCÊ”
O cérebro é sim, essa máquina fabulosa: tanta coisa lá dos tempos de Santo Antão que, de um nadinha, emerge das nossas cavernas mentais, e vem à tona em perfeito estado de conservação, como se apenas tivesse hibernado por vinte, trinta ou quarenta anos. Essa coisa, por exemplo, de acordar com uma música na cabeça é doidice completa. Sem mais nem menos, as notas vão martelando, vão se infiltrando, e quando se vê, olha a gente a cantarolar sem mais nem porquê.
Hoje eu acordei com saudades de você: assim começa A Praça, canção gravada por Ronnie Von, na década de 60. Ontem acordei com ela na cabeça. Fui cuidar da vida, mas lá estava eu, o tempo todo, ruminando a cantilena. Sempre fui boa em decorar letras. Ouvia muito rádio e talvez por não ter imagem que desviasse a atenção — como acontece hoje em televisão, aprendia rapidinho minhas canções preferidas.
Memória, bicho esquisito: como é que a gente pode lembrar perfeitamente uma letra de 60? Não era pra ter esquecido tudo? Com o tempo, a capacidade de lembrar se reduz. A memória armazena tanta coisa que os compartimentos vão ficando saturados. Se houvesse um gráfico, como nos telefones celulares, ia aparecer tudo coloridinho mostrando o disco já quase cheio. O danado é que não dá pra fazer como se faz com os aparelhos — apagar antigos arquivos e pôr novos no lugar...
O que sei é que A Praça me impregnou. Repeti, nem sei quantas vezes A mesma praça, o mesmo banco, as mesmas flores, o mesmo jardim, tudo é igual, mas estou triste, porque não tenho você perto de mim. Muito prazer, minha memória! Quase quatro décadas e ainda sei a letra inteirinha. Naquele tempo sem internet, sem recursos visuais, eu só conhecia o Ronnie, diga-se de passagem, das figurinhas de um álbum que a molecada tentava completar para ganhar uma bicicleta. Mas a música... Intacta no pensamento! E haja tempo decorrido desde Antão!
Mas tem uma coisa interessante: quando a letra vem, ela flui naturalmente, porém, se houver foco, se embaralha todinha! Como é que é isso, hein? Sei lá. Como diz o Chicó, no Auto da Compadecida, “... só sei que foi assim”, eu também digo, só sei que é assim.
A usina da memória é incrível, mas nesse caso não creio em acasos: há sempre um gatilho que a faz disparar, e então as lembranças remotamente armazenadas jorram numa liquidez impressionante. É deixar no automático, agulha deslizando no vinil, que tudo vem à superfície — até o que parecia mais escondido.
Pois bem, entrego os pontos, aceito o gatilho, dou a mão à palmatória: A Praça não veio à toa, emergindo de 60 impunemente, como um sonoro zumbi atravessando o tempo. Principalmente pelo verso que diz: Hoje eu acordei com saudades de você. Sim, hoje acordei mesmo com saudade de você. E é saudade em dose dupla: pelo dia dos pais e pelo seu aniversário seria hoje! Ah, é saudade que não acaba mais, pai...
Hoje eu acordei com saudades de você: assim começa A Praça, canção gravada por Ronnie Von, na década de 60. Ontem acordei com ela na cabeça. Fui cuidar da vida, mas lá estava eu, o tempo todo, ruminando a cantilena. Sempre fui boa em decorar letras. Ouvia muito rádio e talvez por não ter imagem que desviasse a atenção — como acontece hoje em televisão, aprendia rapidinho minhas canções preferidas.
Memória, bicho esquisito: como é que a gente pode lembrar perfeitamente uma letra de 60? Não era pra ter esquecido tudo? Com o tempo, a capacidade de lembrar se reduz. A memória armazena tanta coisa que os compartimentos vão ficando saturados. Se houvesse um gráfico, como nos telefones celulares, ia aparecer tudo coloridinho mostrando o disco já quase cheio. O danado é que não dá pra fazer como se faz com os aparelhos — apagar antigos arquivos e pôr novos no lugar...
O que sei é que A Praça me impregnou. Repeti, nem sei quantas vezes A mesma praça, o mesmo banco, as mesmas flores, o mesmo jardim, tudo é igual, mas estou triste, porque não tenho você perto de mim. Muito prazer, minha memória! Quase quatro décadas e ainda sei a letra inteirinha. Naquele tempo sem internet, sem recursos visuais, eu só conhecia o Ronnie, diga-se de passagem, das figurinhas de um álbum que a molecada tentava completar para ganhar uma bicicleta. Mas a música... Intacta no pensamento! E haja tempo decorrido desde Antão!
Mas tem uma coisa interessante: quando a letra vem, ela flui naturalmente, porém, se houver foco, se embaralha todinha! Como é que é isso, hein? Sei lá. Como diz o Chicó, no Auto da Compadecida, “... só sei que foi assim”, eu também digo, só sei que é assim.
A usina da memória é incrível, mas nesse caso não creio em acasos: há sempre um gatilho que a faz disparar, e então as lembranças remotamente armazenadas jorram numa liquidez impressionante. É deixar no automático, agulha deslizando no vinil, que tudo vem à superfície — até o que parecia mais escondido.
Pois bem, entrego os pontos, aceito o gatilho, dou a mão à palmatória: A Praça não veio à toa, emergindo de 60 impunemente, como um sonoro zumbi atravessando o tempo. Principalmente pelo verso que diz: Hoje eu acordei com saudades de você. Sim, hoje acordei mesmo com saudade de você. E é saudade em dose dupla: pelo dia dos pais e pelo seu aniversário seria hoje! Ah, é saudade que não acaba mais, pai...