TeXtículo (1)

ESCREVER...

Escrever é desenhar.

Escrever é uma técnica que permite externalizar o pensamento. É a atividade mental em forma de desenho, automatismo, meio e instrumento por meio dos quais se distribuem ideias que permitem as mais diferentes produções textuais. Uma ideia reproduzida afasta-se de sua posição inicial e imbrica-se com outras concepções afins e estranhas.

Quando escrevo a primeira constatação é a de que não tenho ideias. Tudo que escrevo tem, SEMPRE, ligação com ideias de outros, autores, livros, textos, artigos, falas, comunicações, fatos. Então, se existem ideias, elas estão configuradas em forma de sentidos que emito, evoco e, eventualmente, produzo e, muitas vezes, reproduzo a partir de ideias da outridade*. O que outra pessoa escreve e eu leio e tento escrever sobre, configura-se em ideia. É como se eu não pudesse fazer ideia das minhas ideias. Outra produção formata as minhas ‘ideias’ em ideias. Este processo se materializa quando alguém me lê e escreve e escreve sobre o lido.

Gosto de me convencer que escrevo só para mim, o que não é verdade. Ao escrever queremos ser lidos. Entretanto, ninguém lê mais vezes o meu texto que eu mesmo. Mania. Patológica? Será?

Seja o que for, de uma coisa eu tenho (in)certeza: melhoro na medida em que escrevo e me leio. Isso não tem nada a ver se alguém lê meus textos ou não. O que significa a minha produção textual é a ideia que eu faço e tenho dela. O sentido e o significado são meus antes de se transformar em alteridade. Mas, desejo-os lidos, compartilhados e jogados no discurso.

Neste processo meu – inicialmente só meu – vou e volto. Mudo de ideia e constantemente volto à ideia anterior. Percebo-me inconstante, confuso e necessariamente inadequado. Ajusto-me, sempre, às demandas da formalidade social. Preciso disso. Culturalmente e profissionalmente é o que me mantem: ajustar-me. Na medida em que me aproprio dos vacilos e da performatividade do discurso conscientizo-me, em tese e fato, de que nada sou além de um enunciado do discurso preso em um corpo. Admito, em pequenez, pequenos vacilos próprios.

Neste sentido, ensaio iniciar uma série, que tenciono manter, de pequenos textos – textículos –, ensaios, croniquetas ou quaisquer outras acepções que a possa caracterizar com a finalidade de melhorar, mais, a minha produção escrita. Não me interessam, muito, os conceitos e significados cristalizados ou dinâmicos. Todos são invenções. Reinvento-os e mudo seus sentidos, tudo é, na melhor das ideias, uma abstração. O meu intento também.

Os temas/assuntos serão aleatórios e aproximativo/interpretativos. Isto significa que terão fundamentação em autores – sempre têm –, porém são antes opiniões minhas ou com as quais concordo do que ideias genéricas ou absolutas. Nada de verdades. Antes, enunciados. Discursos. Abstrações.

Será uma prospectiva semanal ou a partir da iminência das minhas ‘perturbações’ cognitivas, pedagógicas entre outras.

Aos que me leem, obrigado.

Aos que desafiam, sorte – para mim.

Aos indiferentes. Feliz prospectiva!

Grato.