O misterioso
filho do poeta
1. Li em algum lugar, que Machado de Assis achava Olavo Bilac com a "cara de burro". É de se perguntar: porque o poeta parecia com o animal ou porque lhe faltava inteligência?
2. Outra indagação: será que o Bruxo - que era uma sumidade mas não era nada bonito - fez tão indelicada e bizarra apreciação sobre o poeta das estrelas? Creio, que, se o fez, fê-lo sem maldade.
3. Já o cáustico Agrippino Grieco retratou Bilac assim: "Feio, de uma fealdade por assim dizer fascinante, impressionava homens e mulheres. Era estrábico e meio prognata, mas que inteligência, que distinção, que graça em tudo isso! Dizendo versos, encantava, tanto mais quanto um ligeiro sotaque lisboeta, de alfacinha petulante, lhe tornava a dicção mais pitoresca".
4. Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac era 35 anos mais novo do que Joaquim Maria Machado de Assis. Machado era de 1830 e Bilac de 1865. O escritor de "Dom Casmurro", um irretocável romancista; o poeta de "Ouvir estrelas", irretocável, na arte de versejar.
5. Dias desses, dizia-me uma amiga, amante de bons versos, que adorava os sonetos de Bilac. E com sua voz aveludada, recitou dois ou três. Posso assegurar que Olavo, se ouvisse minha amiga declamar suas rimas, ficaria enlevado... Confesso, que fiquei e disse para ela...
6. Conversa vai, conversa vem, com nossas palavras molhadas por um excelente tinto seco, ela, um tanto agastada, fez-me a seguinte pergunta: "É verdade que Olavo Bilac era celibatário?" Note-se: não sem antes deixar de falar, fartamente, sobre Amélia de Oliveira, a eterna namorada do poeta.
7. E travamos um agradável papo sobre Amélia, repito, o grande amor de Bilac. Oh! quantos belos sonetos eles trocaram! Se foi para a cama com sua amada? É pouco provável. Não há registros sobre seus momentos de alcova. Se teve filhos com ela? Improvável. Não casaram. E, naqueles tempos, sem casar era difícil fazer filhos com a reconhecida facilidade de hoje.
8. O historiador, jornalista, Fernando Jorge, autor de "Vida e Poesia de Olavo Bilac", ótima biografia, conta que "Amélia Oliveira, após o enterro de Bilac, passou a usar, na mão esquerda, uma aliança em esmalte preto, orlada com um friso de ouro. Esse anel - segue o biógrafo - tinha as iniciais O.B. e a data do seu noivado - 11 de novembro de 1887 - gravado na parte interna".
9. No mesmo livro, Fernando Jorge diz: "... escondido no decote de sua blusa, sobre o peito, Amélia trazia um medalhão de porcelana, montado em ouro, onde estava o retrato de Bilac, em plena mocidade.
E no verso desse medalhão ela mandou gravar duas datas - 16.12.1865 e 28.12.1918 - indicativas do nascimento e da morte do poeta".
10. E mais. Que de dezembro de 1918 a janeiro de 1945, a sepultura de Olavo recebeu, semanalmente, a visita de Amélia, que a cobria com rosas vermelhas. Amélia morreu no dia 5 de março de 1945; dia e mês em que este modesto escriba apagava dez velinhas.
11. Minha amiga, depois de ouvir essas histórias, voltou a me perguntar: "Afinal, Bilac era ou não celibatário?"
Recorri ao livro do escritor Fernando Jorge para tentar satisfazer a curiosidade da doce Fulana de Tal, que já se mostrava irrequieta, no seu sagrado direito de, como mulher, ser curiosa... Em rápidas palavras, contei-lhe o que lera a respeito.
12. Ou seja, que no ano de 1927, "à mesa de um café", no Rio, Bilac conversava com Humberto de Campos, um dos meus cronistas prediletos. Veio à baila o celibato do poeta. De súbito, Olavo fez uma revelação que surpreendeu o autor de "Sombras que sofrem". Disse o poeta: - "E, no entanto, eu tenho um filho..."
13. - "Você?" - estranhou Humberto. E Bilac repetiu: "Eu, sim..." E completou: - "Só duas pessoas no momento sabem disso: eu, que morrerei sem desvendar esse segredo a ninguém , e "ela", que, mais do que eu, tem interesse em cercar esse caso de todo o mistério".
14. E prosseguiu o papo, com Humberto de Campos perguntando: - "Esse filho vive?"
Bilac respondeu: "Vive".
Fernando não confirma a existência desse rebento bilaquiano. Mentiu o magnífico poeta de "Última flor do Lácio, inculta e bela"?
15. Quem sabe se, mais cedo do que se pensa, um pesquisador surge com a confirmação de que Bilac, de fato, tivera um herdeiro.
Por enquanto, o filho que o maravilhoso sonetista disse ter feito, continua envolto no mais denso e gostoso mistério.
filho do poeta
1. Li em algum lugar, que Machado de Assis achava Olavo Bilac com a "cara de burro". É de se perguntar: porque o poeta parecia com o animal ou porque lhe faltava inteligência?
2. Outra indagação: será que o Bruxo - que era uma sumidade mas não era nada bonito - fez tão indelicada e bizarra apreciação sobre o poeta das estrelas? Creio, que, se o fez, fê-lo sem maldade.
3. Já o cáustico Agrippino Grieco retratou Bilac assim: "Feio, de uma fealdade por assim dizer fascinante, impressionava homens e mulheres. Era estrábico e meio prognata, mas que inteligência, que distinção, que graça em tudo isso! Dizendo versos, encantava, tanto mais quanto um ligeiro sotaque lisboeta, de alfacinha petulante, lhe tornava a dicção mais pitoresca".
4. Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac era 35 anos mais novo do que Joaquim Maria Machado de Assis. Machado era de 1830 e Bilac de 1865. O escritor de "Dom Casmurro", um irretocável romancista; o poeta de "Ouvir estrelas", irretocável, na arte de versejar.
5. Dias desses, dizia-me uma amiga, amante de bons versos, que adorava os sonetos de Bilac. E com sua voz aveludada, recitou dois ou três. Posso assegurar que Olavo, se ouvisse minha amiga declamar suas rimas, ficaria enlevado... Confesso, que fiquei e disse para ela...
6. Conversa vai, conversa vem, com nossas palavras molhadas por um excelente tinto seco, ela, um tanto agastada, fez-me a seguinte pergunta: "É verdade que Olavo Bilac era celibatário?" Note-se: não sem antes deixar de falar, fartamente, sobre Amélia de Oliveira, a eterna namorada do poeta.
7. E travamos um agradável papo sobre Amélia, repito, o grande amor de Bilac. Oh! quantos belos sonetos eles trocaram! Se foi para a cama com sua amada? É pouco provável. Não há registros sobre seus momentos de alcova. Se teve filhos com ela? Improvável. Não casaram. E, naqueles tempos, sem casar era difícil fazer filhos com a reconhecida facilidade de hoje.
8. O historiador, jornalista, Fernando Jorge, autor de "Vida e Poesia de Olavo Bilac", ótima biografia, conta que "Amélia Oliveira, após o enterro de Bilac, passou a usar, na mão esquerda, uma aliança em esmalte preto, orlada com um friso de ouro. Esse anel - segue o biógrafo - tinha as iniciais O.B. e a data do seu noivado - 11 de novembro de 1887 - gravado na parte interna".
9. No mesmo livro, Fernando Jorge diz: "... escondido no decote de sua blusa, sobre o peito, Amélia trazia um medalhão de porcelana, montado em ouro, onde estava o retrato de Bilac, em plena mocidade.
E no verso desse medalhão ela mandou gravar duas datas - 16.12.1865 e 28.12.1918 - indicativas do nascimento e da morte do poeta".
10. E mais. Que de dezembro de 1918 a janeiro de 1945, a sepultura de Olavo recebeu, semanalmente, a visita de Amélia, que a cobria com rosas vermelhas. Amélia morreu no dia 5 de março de 1945; dia e mês em que este modesto escriba apagava dez velinhas.
11. Minha amiga, depois de ouvir essas histórias, voltou a me perguntar: "Afinal, Bilac era ou não celibatário?"
Recorri ao livro do escritor Fernando Jorge para tentar satisfazer a curiosidade da doce Fulana de Tal, que já se mostrava irrequieta, no seu sagrado direito de, como mulher, ser curiosa... Em rápidas palavras, contei-lhe o que lera a respeito.
12. Ou seja, que no ano de 1927, "à mesa de um café", no Rio, Bilac conversava com Humberto de Campos, um dos meus cronistas prediletos. Veio à baila o celibato do poeta. De súbito, Olavo fez uma revelação que surpreendeu o autor de "Sombras que sofrem". Disse o poeta: - "E, no entanto, eu tenho um filho..."
13. - "Você?" - estranhou Humberto. E Bilac repetiu: "Eu, sim..." E completou: - "Só duas pessoas no momento sabem disso: eu, que morrerei sem desvendar esse segredo a ninguém , e "ela", que, mais do que eu, tem interesse em cercar esse caso de todo o mistério".
14. E prosseguiu o papo, com Humberto de Campos perguntando: - "Esse filho vive?"
Bilac respondeu: "Vive".
Fernando não confirma a existência desse rebento bilaquiano. Mentiu o magnífico poeta de "Última flor do Lácio, inculta e bela"?
15. Quem sabe se, mais cedo do que se pensa, um pesquisador surge com a confirmação de que Bilac, de fato, tivera um herdeiro.
Por enquanto, o filho que o maravilhoso sonetista disse ter feito, continua envolto no mais denso e gostoso mistério.