A NOSSA ORTOGRAFIA E A LEI.
Escrevo com o objetivo de esclarecer,no que posso, ao meu alcance, principalmente no que tenho como profissão, pois algumas vezes se desconhece a obrigatoriedade da lei. Por vivermos em sociedade não podemos ignorá-la, e não há como alegar seu desconhecimento para descumprir a regra, é ditame da própria lei. Assim é com a ortografia também, rege-a a lei. Como disse a recantista e linguista que escreve nesse site e, lógico, conhece a língua, não adianta ensinar a atual ortografia para quem não sabia a anterior. Mas ninguém é obrigado a saber isso ou aquilo. Na nossa língua ir além do coloquial e do dia a dia para exclusivamente se comunicar é desnecessário, bastante o usual falado com ou sem correção, só não podemos subverter a realidade de fato e de direito. Ninguém pode ou deve impor nada, sob essa angulação. E basta ser monoglota com todos seus limites, sem problemas.
Tinha um português riquíssimo, pai de um de meus maiores amigos que só falava sua língua, e de forma rascante o nosso português do Brasil e dizia: “quando estou a viajare eles que se danem e me entendam, estou com os dólares no bolso”. É isso.
Recebi um email de pessoa conhecida que manifestava enorme equívoco:
"Mas acontece que a CPLP não deu certo. Portugueses escrevem como sempre escreveram, e os novos fenômenos são africanos ou das ilhas - Açores, Madeira. Mia Couto é da ABL, amigo de Bechara e não liga a menor para sua ortografia." E continua : Sigo as regras que estabeleceram. Mas como muita coisa não pode mudar, por exemplo o hífen em bom e mal. Sempre levam hífen.” Ao contrário, mudou muito e expliquei:
Continuou:
“No entanto, quando coloco nos meus contos ou crônicas diálogos, procuro seguir ao máximo a linguagem falada.”
Língua falada é diversa da grafada. E reconhece: “Complicado isso.....”
Esclareci então:
A ortografia não é de Bechara, ele somente presidiu a Comissão para a qual foi nomeado pelo Executivo para consolidar a unificação. É lei.
Achou ainda que os que escreviam dentro das normas novas, como “ paralama, paraqueda”, era ortografia própria criada por alguns, os compostos que se galvanizaram pelo costume, dizendo:
“Muita gente que escreve resolveu fazer sua ortografia própria. Assim, o antigo pára-quedista virou paraquedista, a palavra fica mais uniforme, repare só. Faz sentido.”
O sentido vinha da lei desconhecida!
Achava também que nada sobre bem e mal havia se modificado quanto à hifenização, um enorme equívoco que compreendo, por falta de contato com as normas, disse então meu conhecido:
"Mas como muita coisa não pode mudar, por exemplo o hífen em bom e mal. Sempre levam hífen."
Esclareci de novo, sic:
As regras do “bem” e do “mal”: pelo novo acordo, três palavras perdem o hífen e se unem ao elemento seguinte com o “m” virando “n”: benfeito (antes, bem-feito), benquerido (antes, bem-querido) e benquerer (antes, bem-querer).
A forma “bem feito” (sem hífen) expressa ironia, maldade. Exemplo: “Ele não passou no teste; eu acho bem feito”. No mais, as regras foram mantidas.
Usa-se o hífen com “bem” e “mal”, se o segundo elemento começar por “h” ou por vogal. Exemplos: bem-amado, bem-aventurado, bem-agraciado, bem-educado, bem-humorado; mal-humorado, mal-estar, mal-afortunado.
Ressalte-se: no caso do advérbio “bem”, quando o segundo elemento inicia por consoante, geralmente há hífen. Exemplos: bem-falante (porém, malfalante), bem-nascido (porém, malnascido), bem-mandado (porém, malmandado), bem-visto (porém, malvisto), bem-sucedido (porém, malsucedido), bem-fazer (porém, malfazer), bem-posto (porém, malposto).
Disse ainda o seguinte o interlocutor:
“Faço parte deste time, é maioria.” Qual time? O que escreve fora das regras e acha que quem escreve submisso a elas (paraquedas, paralama) está criando a própria ortografia?
Não existe maioria na desinformação, disse eu, lógico, ou se sabe ou não se sabe, o que não tem nada demais, saber ou não saber, direito de cada um, opção.
Ninguém “resolveu fazer sua ortografia própria ”, é regra atual, compostos que se galvanizaram pelo costume, (quais (?), é o problema, alguns são óbvios), o que critiquei pela subjetividade da regra nova.
Mas calcado em posição opiniosa e fundamentalista, embora sem nenhum fundamento, que respeito, mas discordo, concluiu:
“Faço só uma simples observação.
Línguas não podem estar sujeitas à lei.”
Gigantesco equívoco, a língua é viva, sofre metamorfoses por força de regionalismos e neologismos consagrados pela autoridade de quem os cria, mas ela é conduzida por normas oficiais egressas da lei. A lei impõe que se formalize a escrita conforme assentado nas regras. Na
Itália, após a unificação política, assentou-se a língua falada em Florença, “florentina”, com base na “Commedia” de Dante, a língua que passou a ser o idioma nacional, por força de lei.
Na França, bem antes, o mesmo com o provençal e assim sucessivamente na Europa. Tudo por força de lei. No Brasil o português do Brasil-colônia consubstanciou-se no nosso idioma português, por força de lei, e breve histórico nesse sentido fiz em trabalho meu que consta do site sobre as novas regras visando a unificação por lusofonia. Hoje, sob aspecto jurídico, entendo que a alteração não se realizou, dependente que é de aprovação conforme artigo meu no site, por dependência econômica sujeita à lei congressual. Está prevalecendo o uso, e se fossemos rigorosos em termos de lei, nada seria alterado desde a origem da pretendida lusofonia.
Existem pessoas, não se sabe a razão, se por conforto pessoal com relação a se atualizar, que “escrevem” sem nenhuma observância de regras mínimas, por vezes sem cedilha ou til, ficando porção como porcao. É estranho, mas ocorre, evidentemente em internet, para edições formais evidentemente não funciona. E desta forma grafando, alguns vocábulos não permitem nem no texto lançado a configuração funcional interpretativa.
E muitas assimilações errôneas ocorrem por força dessa disfunção de compreensão e entendimento. Uma colocação elástica tem por vezes entendimento elástico. Complicado sob esse ângulo transitar na linguagem grafada com desenvoltura e compreensão, fora os vocábulos não usuais pela maioria não usados mas comuns para outros.