Procura difícil

Era realmente uma procura difícil. Muitos tentam.

Sentado em frente ao mar aberto, tempo frio, a varanda da sua casa modesta, mas nada pobre em beleza pura, aquela que você encontra nas pessoas simples que sabem planejar sua casa, o homem pensava. Havia trazido para fora, e colocado numa mesa da varanda, um arsenal que não faltava entre suas coisas. Um laptop, seu celular, pois ter que sair dali, naquele entardecer avermelhado para atender a alguma chamada no telefone da casa seria sacrilégio.

Estava sozinho, a mulher não demoraria a chegar, médica chamada às pressas para confirmar ou não um caso de provável pneumonia. Nem sempre isto é possível sem exames complementares.

Sem dizer uma palavra, levantou a gola da velha japona, companheira de muitas jornadas. A outra, já gasta, estava no seu armário, junto da mochila, cordas, mosquetões e outros apetrechos de escaladas e montanhismo. Não, não estamos diante de escalador famoso, montanhista de renome. Gostava de grandes picos da serra dos Órgãos, conhecia todos e o das Agulhas Negras também.

Então, qual o motivo da casa em frente ao mar-oceano, o que não tem fim, o grandioso que domina quase toda a Terra? Não, nem ele mesmo sabia. Ninguém sabe, com toda certeza. Talvez a visão de que nunca acaba, o horizonte encontra-se com o céu, possa ajudar a explicação.

Tinha idade suficiente para procurar a destinação da sua vida, esta curiosidade que afeta todos nós. Você abre os olhos e vê o que cerca, presta atenção ao tempo e escuta o barulho da existência, o farfalhar das folhas, o quebrar das ondas. É presente, aqui e agora, e sonho, do qual a Vida nunca foi apartada. Vivia por qual motivo? O primeiro, evidente, é que era fruto de um parto. O texto, parece, continua sendo mistério. O canto dos pássaros, a beleza das matas, o mistério dos mares, enfim o encantamento de tudo.

O amor. Este é o mais profundo e sentido mistério que nos cerca. Para ele não possui o homem definição exata. Sente-se, é tudo.

E a gente, com uma boa quantidade de incrédula, infantil e desnecessária, continua procurando, procurando...