O código do ônibus
O ônibus de número 555 era conhecido por sua extrema organização, ausência de confusão e a normatividade de um código não escrito. Uma das regras, de número setenta e um, normatiza que todos devem, sem exceção, segurar os pertences daqueles que não estão sentados.
Certo dia um rapaz que nunca havia tomado aquele ônibus, sofreu a infelicidade de descumprir o pacto silencioso porque nunca tinha ouvido falar da regra.
- Segure minha bolsa! – uma moça ordenou.
Estranhando a situação, o moleque revoltado proferiu um discurso dizendo que não era obrigado a fazer nada, que não tinha lei dizendo que tinha que segurar a bolsa de uma “velhaca”. A revolta instantaneamente se instalou contra o infrator, gerando grande alvoroço em todos os passageiros.
Era considerado uma barbárie alguém ousar a ir contra as regras tão bem escolhidas pelos os usuários para promover o bom ambiente.
Logo havia sido instaurado um tribunal que discutia sobre quem estava certo e quem estava errado.
- Ora, há um código vigente deve ser respeitado.
- O código serve para organização, e olhe, essa bagunça se deu por causa dele. Devemos banir o código.
- Sem o código não sobreviremos.
Algumas paradas depois uma senhora que aparentava ter oitenta anos embarcou. Vendo aquela confusão perguntou ao motorista o que estava acontecendo.
- Estão discutindo por causa da quebra de protocolos do código deste ônibus.
- E qual a infração?
O motorista nada respondeu. Ela sentou no bendito lugar que gerou a inquisição do garoto e aguardou a resposta. Todos se calaram sem saber ao certo o que responder.
- Ora, nem sequer sabem a infração? Então para que o alvoroço?
- Cale a boca, a senhora não sabe o que esse imbecil fez dentro do ônibus.
- Então me diga você.
Em resposta o silêncio se sobrepôs a qualquer ruído de confusão. Daquele dia em diante o código só teria uma regra. Se alguém não sabe, não grite, ensine.