JESUS CRISTO. O HOMEM-DEUS.

"Nesse marco da crucificação de um justo, foi antecipada toda a doutrinação épica da justiça, fortalecendo-se pela ordem natural a primeira e única crença na feitura de Justiça, no encontro da verdade com o paradoxo, por ser sentenciado à morte o maior paradigma da justiça em toda sua concepção máxima.

O julgador, angustiado por ter que lavrar a sentença àquele que os céus o faziam perceber que seria levado à história triste e sangrenta por sua decisão, prestava jurisdição clamando por ser um justo o réu, réu de nenhum crime, vitima do egoísmo e da inveja, surda aos seus reclamos de julgador a turba judia.

Quem exerce ou exerceu o ministério do julgamento pode avaliar "de longe" tal aflição, a aflição do juiz que deixa de ser juiz para ser julgado pela indecisão e ausência de autoridade, pressionado pela avalanche política da opinião pública.

Lavou as mãos Pôncio Pilatos para exarar a sentença que eclodiu para o resto dos tempos pelo crime do amor ao próximo, e o fez o julgador intimidado pela coação política de que seria o réu um sedicioso que militava contra o Império Romano. E tão só. Não havia libelo de crime algum, somente o rasgo torpe da inveja, escárnio da natureza humana.

Essa justiça proclamada é desdenhada por todos nos dias de hoje, pois perguntado o que era a verdade o Santo silenciou, por dar testemunho para o mundo na sua posteridade da justiça envolta na caridade, a mesma que hoje é negada por muitos, por vezes mesmo a um irmão ou irmã de sangue.

O amor à família é um dos traços característicos da nobreza humana e a força unificadora dos lares, até mesmo dos "Deuses Lares" pagãos dos romanos, que eram simbolizados na chama acesa em todas as casas (lares, daí o nome), que o "pater famIlia" (pai de família) mantinha incandescente para preservar os valores cuidados e respeitados em grau máximo, os valores familiais.

A visão do Homem-Deus é única no planeta terra e em consequência fustiga intelectos, talentos e consciências, da angústia de Kant, filósofo agnóstico maior a curvar-se a uma Primeira-causa, maiúscula como ele mesmo grafa, recusando a eternidade mas submetido ao regime causal, até à consciência do invulgar Bonaparte que deu ao mundo a Bíblia-constituinte da cidadania civil, dizendo conhecer muito bem os homens e por isso podendo dizer que Cristo não foi um homem.

Tentemos colocar nos lábios de qualquer outra pessoa, mesmo celebridades no correr da história, e algumas tentaram, certas palavras de Jesus, mesmo para largarem tudo e seguir sua missão, como por exemplo estas:

"Todo o poder me é dado no céu e na terra "; " Eu sou a luz do mundo" ; " Eu sou a luz do mundo, quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida".

Qualquer pessoa que fizer tais afirmações será chamado de louco. Por que em Cristo elas não produzem tal efeito?

Jesus desafiou seus algozes a apontar nele qualquer falha, tamanha consciência tinha de sua bondade, acresço, de origem divina. Todos silenciavam. Não há perfeição no caráter humano, uns são próximos do bem absoluto, generosos com todos, solícitos, prestativos, solidários, presentes e caridosos; poucos nessa linha. Outros medianos nesta enunciação, alguns péssimos, numerosos, estes dando até mesmo as costas a um irmão ou irmã de sangue, negando-lhes por vezes assistência de que necessitam com urgência.

O Cristo não delegou essas misérias humanas que estão espalhadas pelo mundo de forma pessoal e, principalmente, coletiva, àqueles que são responsáveis pela justiça social no seu mais amplo espectro, omissões pelas quais todos terão que pagar pela justiça por Ele preconizada. Ele não delegou por si caminhos diversos, pois todos são filhos da mesma raiz, são razão do mesmo pai. O sinal da diferença é o signo da escolha de cada um. Ele concedeu vida, caridade, amor, caminhos que serão proveitosos ou não e sinalizarão seus registros. Mostrou o que a maioria não segue.

Morreu em razão da política que finalmente o levou à crucificação para preservação do cargo de Pôncio Pilatos que temeroso pela coação dos judeus em confrontá-lo com a autoridade de Roma autorizou a crucificação, na certeza de que lavou as mãos, mãos que mais se sujaram na história da humanidade.

Mas estava escrito. E morreu o Cristo também pela maldição da inveja que sacrifica e amaldiçoa o invejoso, o martiriza, que come a própria carne no seu abismo de inferioridade, como ressaia de Caifás e seu séquito.

Depois de seu suplício assistido resignadamente por sua mãe, Maria, martirizada pela lágrima muda que cai do Gólgota pelos séculos a fora, onde qualquer dor por mais pungente fosse se apequenaria se comparada a essa imensa mágoa, a humanidade toda voltou-se para a cruz como símbolo de redenção e esperança de tantos quantos veem na irmandade verdadeira o único meio de aproximação dos homens.

Diga-se primeiramente que não vamos nesta reflexão defender a existência do Cristo como pessoa, ser humano, homem que esteve entre nós, o que ainda encontrou em bom tempo resistências palpáveis. Este libelo infantil e tolo da negativa da passagem do extraordinário ser pelo Planeta Terra já restou superado por quem acata história, historicidade e a historiografia. Não seria demasiado citar Goethe, considerado o mais pagão de todos os poetas modernos, referindo-se a Cristo: “O homem divino, o santo, o tipo e o modelo de todos os homens”

Independente desse referencial, questões maiores e íntimas à seriedade dialética nos movem, motivam e impulsionam.

Qual base e motivação humanas podem fazer um ser de carne e osso, com seu corpo que é alma, espírito mas também matéria, ser conhecido em toda uma história de dois mil anos como símbolo inigualável, sem parâmetros comparáveis, sem ter escrito uma só palavra, e sem revisão dos ensinamentos, sempre atuais nesses dois milênios?

Que força seria essa a palpitar no interior de milhares de vidas, após sua morte, morte do Cristo, movendo ideias e ideais, sem que nenhum sistema ou nação de vulto tivesse apadrinhado seus ensinamentos integralmente? Bom de dizer, até hoje.

Que engenhos ou mágicas trouxeram transformação e mimetização da lógica primária, para que um ser humano, uma pessoa, um simples cidadão judeu, com todas as fragilidades da carne fizesse ecoar para os tempos o sacrifício do Homem Jesus Cristo, carisma de credos e gentes?

Qual mistério envolve a chegada do menino Jesus, nascido da simplicidade de seus pais na festejada manjedoura de um pobre estábulo, que é hoje e sempre origem das alegrias e festas de muitos chamada natal, sinônimo de nascimento, fazendo a mudança de tantos costumes e culturas?

Qual a explicação da conduta aceitável por raciocínio elementar, mesmo dos que não tem fé nem participam do credo, para respeitarem a proclamação de seu nome sem ofensas?

De relevância questionar ainda qual a razão efetiva e plausível da doutrina do Cristo se difundir, se expandir, restar profusa e hegemônica para além de todos os limites e fronteiras da Palestina sem que tenha em sua terra de origem superado e suplantado o judaísmo do qual derivou?

Onde se configura ausente de dúvidas a certeza dos incertos, na filosofia maior das celebridades agnósticas e do pensamento descrente, ou seja, daqueles que se debateram antes de morrer pela angústia de não poderem explicar o desconhecido, a morte, negando Jesus e seu Pai?

Por que passarem por tais agruras esses pensadores ao resistirem não se sabe a que título razoável à profecia destinada ao mundo de um Deus de boa vontade?

Por que sofrer pela resistência sem justificativas de ceder ao mensageiro do bem?

Não há nada sob o céu que aconteça sem causa. Nas paralelas que não se encontram determinadas pelo livre arbítrio que deu causa ao bem e ao mal, ao famoso maniqueísmo, está também a mão de Deus. O Absoluto, Deus, deixou a verdade e o caminho apontado. Impunha-se existir a contrariedade ao que seja o bem embora ele, o bem, seja a meta de todos na vontade do Pai. Mas o bem cessou de ser origem voluntária da criação pela mancha chamada pecado que habita e tem configuração concreta na consciência. A consciência é o tribunal mais eficiente da conduta do que seria o medo às autoridades externas, pois se dessas se pode fugir o mesmo não se dá com nosso interior, do qual não há possibilidade de fuga, pois faz parte de nós mesmos.

Não há possibilidade justificável, em princípio, para não estarmos todos do lado do bem e da verdadeira razão de sua origem. Mas isso não acontece. Por quê? Pela razão do pastor ter o rebanho agrupado embora muitas ovelhas se desgarrem, isto da mesma forma que um professor ensina a disciplina mas nem todos aprendem.

São assim os agnósticos, especialmente os mais festejados, reticentes, impositivos e ao mesmo tempo vacilantes. A resistência a doutrinas e posições é conceito de conhecimento, científico, respeitável sempre, formador de opinião. Resistir parcialmente inadmitindo sob um aspecto e admitindo de outro, inserindo a dúvida que não se define é enfraquecimento da tese. Tese dividida perde a força, se estiola e se acinzenta sob o véu da credibilidade.

Como diz Gandhi, que não era Cristão, “Creio em Deus não como uma teoria, mas como um fato real mais que a própria vida”, e acrescenta, “se estamos atentos, Deus nos fala em nossa própria língua, qualquer que seja”.

Por qual motivo um gênio da elaboração do pensamento, entre tantos outros como Kant e Huxley, afirmou que “não ouso crer nem descrer de nada”, como fez Shakspeare?

Quais barreiras de incompreensão, mesmo pacificadas, podem ser recebidas como razoáveis, ainda que desenhadas por aqueles que puderam ter maior percepção do planeta e de seus habitantes através de suas reflexões e de seus estudos e ainda assim negaram o Deus-Homem?

Responde-se: nenhuma.

Onde está a razão compreensível, sem ser gigantescamente surpreendente, para que tantos se curvem aos ensinamentos não escritos do Cristo, se nada se aprendia de religiosidade em sua época, a não ser pelo sistema de impressão das sagradas escrituras, e muito pouco pela oralidade de então, mero instrumento de discussão doutrinária?

Quem ensinou só em oralidade com registro na história do homem e dos povos com tal envergadura e influência? Responde-se: ninguém.

Tudo isso cerca de adjetivação fantástica o personagem e qualquer adjetivo seria pouco para sua grandeza.

Como refere o Evangelho de João, “No princípio era o Verbo”. Essa locução nos remete ao arcabouço da filosofia grega, ao “logos” pleno de conceito universal.

É a inteligência divina sem similar que faz as arestas do cosmos, cósmica, que transcende oposições, contradições, antagonismos e imperfeições aparentes.

Quem permitiu ou foi veículo, com que meios, modos ou sistemas, manuscritos ou através da história, que essa oralidade reportada chegasse até nós com todas as contradições existentes mesmo nos evangelistas ?

Tudo soa surpreendente quando se fala no Homem-Deus.”

Do meu livro “A Inteligência de Cristo”.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 08/08/2018
Reeditado em 08/08/2018
Código do texto: T6413376
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