A Miséria não tem estrelas - BVIW

Tive contato com a miséria pela primeira vez, lendo Vidas Secas, de Graciliano Ramos. Aquela família enfrentando a caatinga, a sede e a fome. Aquele pai que não sabia usar as palavras e o filho que, curioso sobre elas, queria saber o significado de inferno, mas o pai não sabia explicar. E a pergunta fora repetida para a mãe que lhe dera um cascudo como resposta.

Depois conheci Macabéia, essa ganhava cascudos da tia. Sua infância miserável se expandiu por toda vida. Virou a moça sem atributos, sem comida quente, mas cheia de sonhos inspirados em Marilyn Monroe. Queria ser uma estrela! Sua esperança fora destruída pela ignorância que atropela e mata.

Um dia, em uma destas conversas, em que fatores políticos fazem emergir o que há de pior no ser humano, uma paulistana me disse que não sabia se nordestino poderia ser considerado gente. Fiquei sem saber que bicho era ela e preferi não estar mais ali. Veja que há miséria até por onde a mesa é farta e as decorações são ricas. Não se compadecer por Macabéias ou por Fabianos é ser tão miserável como os que vivem com fome de tudo.

Marília L Paixão

obs: Macabéia é a personagem de Clarice Lispector em A hora da Estrela.

Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 08/08/2018
Reeditado em 08/08/2018
Código do texto: T6413120
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