SADOMASOQUISMO RACIAL DE UM GENERAL


"Minha origem é indígena. Meu pai era amazonense"... 
Para os bons caçadores, uma flechada basta.  E bastou.  O Brasil ouviu algo mais e se feriu.

Eu, brasileiro, cafuzo, gerado do caldeamento entre as raças negra e indígena, estudioso entusiasta de antropologia e de sociologia, se vier a pronunciar ou escrever algo inerente à minha miscigenada origem - ou simplesmente ao negro, ou simplesmente ao índio - saberei o que estou dizendo e porque estou dizendo. A única exceção aconteceria se meus estudos me houvessem imbecilizado ao extremo de tornar-me um indivíduo preconceituoso e/ou um  desprezível ser querendo ser superior a outro ser humano.
No meu caso, o que eu disser está dito; se eu escrever, ficará escrito, e acabou!  Responderei e me resignarei com as críticas, caso ocorram..  Assim, antes de me expressar verbalmente ou de forma escrita, penso, pelo menos, que sou dos que pelo menos pensam.

Não quero aqui, absolutamente, desguiar a intenção de um certo general bolsonariano em pronunciamento de campanha, ontem (07/08/2018) na cidade gaúcha de Caxias do Sul.  Quando um general fala, o capitão tem que se perfilar e apenas escutar.  Ordem é ordem. O Progresso é: "Direita, volver!"...

Pois foi exatamente assim que aconteceu: o capitão, subserviente candidato a presidente, emudeceu.
Se o general ainda acrescentou que o índio é indolente, claro que ele disse a sua verdade, pois revelou conhecimento da origem preguiçosa de sua árvore genealógica.
  
Quanto à malandragem do negro,  aquele que plantou e cortou tanta cana de açúcar pros nossos engenhos;
aquele que plantou e apanhou tanto café;
aquele que plantou e apanhou tanto algodão;
aquele que tanto plantou e apanhou;
que tanto plantou,
que tanto apanhou...
Aquele que tanto perfurou nossas minas sem nunca perguntar o valor das pedras preciosas que carregava em seus balaios... 
É muito provável que o general tenha dito uma verdade! 
O agronegócio mecanizado suplantou todas aquelas plantações.
Das pedras preciosas, depois das novas técnicas de garimpo, não sobraram sequer pedras sobre pedras...

Principalmente o agronegócio automatizado, devolveu o negro desocupado às suas "senzalas", pra dançarem, malandramente, nos terreiros ao redor de Janaína ou Iemanjá (palavras sinônimas), esperando a escravidão voltar. Voltar?  Ou a morte chegar...

Senzalas e cárceres também se interpretam como palavras sinônimas: enjaulam. Lá, numa ou noutra, não se fala em alfabetização...

Não precisa explicar sua verdade, general Mourão.  Verdade - tanto quanto Deus - tem um sentido tão puro que dispensa explicação.

Há pouco um outro "general" - Moro, certamente de origem moura, ou ibérica, como o senhor falou -, que é do ramo do Direito,  fez uma sentença condenatória de 88 laudas contra um preso político, por certo, no seu entender, um meliante sem nenhum valor, porque, além de ser de origem negra, é nordestino. Fez igual ao senhor, general: explicou, explicou e nada explicou. É que preconceitos verdadeiros também não se explicam, general, mesmo que tenham sido gastas as 35 primeiras laudas dessa sentença somente com desculpas e tentativas de explicar o inexplicável, as razões de sua decisão, de sua "verdade".  Pucha, general, isso é ou não é um acinte jurídico ? ! . . .  Não o imite, por favor, porque verdades não se explicam, sob pena de não serem verdades.
 
Por exemplo: Hierarquicamente, um general tem mais poder do que um capitão.  Se essa hierarquia, em forma de patente, é uma verdade, então não cabe mais nenhuma explicação para o uso desse poder..., Não é verdade, general?!...

Outra verdade (e esta é minha, sr. Bolsonaro, sr. Mourão): Quando os Estados Unidos impuseram ditaduras na América Latina nas décadas de sessenta e setenta,  nossas forças armadas, até perto de 1967, eram subsidiadas financeiramente  pelos norte-americanos, com o fito de dar continuidade à operação caça às bruxas (do ainda atuante Macarthismo).  Aparentemente cessou a Guerra Fria, mas, quem sabe, dê pra entender que as ditaduras hoje se modernizaram.  Juízes, procuradores e tantas outras autoridades de destaque de nosso país, além de certos fanatizadores ditos religiosos, têm ido com frequência receber instruções ou prêmios nos Estados Unidos (não me consta nenhum desses eventos na Europa). Por quê? P​​​​​​ra quê? Sob os auspícios de quem?...
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P.S.:  O capitão candidato está dizendo que o sentido de "indolência" é a "capacidade de o índio perdoar".  Não é verdade.  Essa saída dele é tão somente preguiça (ou incapacidade) de raciocinar.

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Fernando A Freire
Enviado por Fernando A Freire em 08/08/2018
Reeditado em 11/08/2018
Código do texto: T6413088
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