JESUS CRISTO. AMOR E CARIDADE.
"O filósofo Jhon Gray, festejado pensador contemporâneo, cuja fluência da simplicidade convence e espanta pela clareza e fundamento, demonstra que o interesse do homem sempre foi o mesmo em épocas remotas e atualmente. Sustentado nessa premissa adita ser o progresso mera ilusão.
Não está colocando em dúvida os progressos relativos ao saber, ao conhecimento, às ciências; estes avançaram e avançarão postos disponíveis para a humanidade.
Afirma ser ilusão o progresso do homem sob aspecto anímico; progresso interior, assim acredita. Não haverá despojamento pelo homem de seus interesses que sempre foram os mesmos; não importam seus próximos, sentencia. O famoso e sempre presente egocentrismo. Ausenta-se assim a Lei Moral.
Ouse-se contrariar sua posição escutada a historia do homem; Gray lida com a realidade. Perderíamos tempo. É pesquisa de difícil enfrentamento. Essa estrada de percurso penoso e árido na procura de despojamentos em benefício da Lei Moral, do altruísmo apontado por Collins, do doar-se sem trocas na inteligência do verbo do Cristo, é procura negativa, encontráveis somente números de pouca monta.
Gray considera o iluminismo e as grandes conquistas do intelecto, direcionadas a apontar a melhora do interior humano, frustradas de sucesso. Mesmo se dizendo não cristão, sinaliza o cristianismo como o grande veículo de realização humana sob aspecto coletivo e única opção viável.
Paulo de Tarso (São Paulo) e Santo Agostinho são, segundo sua convicção, os grandes mentores do credo revolucionário do interior humano, que faria mudança de todos os hábitos e costumes (normas enfim), se aceitos pela humanidade os princípios do cristianismo. Extinguir-se-iam a ausência de solidariedade, o egoísmo, a estagnação no doar-se sem trocas, a avareza, a pusilanimidade no enfrentamento das dificuldades que constroem as grandes almas na entrega às grandes causas, enfim, à construção do bem, da virtude, da observação da Lei Moral.. Está posta a inteligência inigualável do Cristo, incontestada.
São Paulo é para o cristianismo o que foi Maquiavel para a política. São Paulo foi e é um gênio político. Sua visão determinou capacidades do cristianismo se adequar aos desafios e exigências contemporâneas, teologia centrada no poder da ressurreição que vence o maior desafio do homem, a morte, construindo princípios democráticos, estruturas sociais dirigidas à maior igualdade, investindo na solidariedade que caminha ao lado da caridade professada pelo Cristo.
Não há vertente laica, humanismo algum, à distância da doutrina de Paulo de Tarso; preferir ser apanhado pela injustiça do que concretizá-la, trabalhar a serviço do bem e da verdade, buscar valores espirituais ao invés de materiais, e toda essa ordem de seguimentos que faz do cristianismo e dos cristãos herdeiros involuntários de Platão, demonstram a caminhada em sentido contrário das outras opções desastrosas, onde se essas idéias não se transformaram em leis e regras sociais, coercitivas ou não, o poder se instalou pelo terror, pela ditadura, pela violência institucionalizada, pela morte, e pior, muitos assim procedem em nome de Deus, embora tal fato seja surpreendente.
E São Paulo exorta a humanidade fraterna respeitosa, fazendo par com seu semelhante, não excluindo ninguém do desvelo e carinho, do reconhecimento que se aproxima pela caridade, pela distância absoluta de qualquer forma de egoísmo, material e emocional, com quem quer que seja, para sermos caridosos com os que vivem, pois tudo que vive é sagrado.
Ser humanista acima de tudo foi a lição de Paulo proveniente do Cristo, e devemos repetir todos com a "Carta aos Coríntios", (13:1,2):
”Se eu falar a língua dos homens e dos anjos e não tive caridade(...) e se eu tiver o dom da profecia e conhecer todos os mistérios (.....) e se tiver toda a fé (....) e não tiver caridade, não sou nada”. Digamos, de nada valerá.
Mas o interesse pessoal não permite o progresso interior, a caminhada ao encontro da caridade e da justiça. O pacto cristão da “nova aliança”, a inteligência do Cristo, resulta irrealizável, mirífico, sonho sonhado.
Por todos esses caminhos percorridos pela história do homem, a dominação, a subjugação pela escravidão, a apreensão de posses e riquezas sempre foram os móveis do homem, enfim, seu interesse. Impõe dizer que repelir essa estratégia construída em oposição à inteligência cristã, escutada e avaliada a história é ser visionário, embora não possamos apagar a esperança. E a força se manifesta pelo poder físico e financeiro. Foi, é, e sempre será assim, embora sonhadores expectantes lancem os olhos para horizontes outros apartados desses anátemas, dessa máculas sombrias e permanentes. Mas nunca é demais nutrir esperanças, não podemos apagá-las.
Gire-se a roda da história e busque-se algo diverso; poucas exceções surgirão.
A mediação desse interesse nenhuma doutrina conquistou. Prevalece o sempre manifesto egoísmo, de homem a homem, de nação a nação.
O interesse, necessariamente, deve ser filho da legitimidade.
Mas o interesse que reflete o mal, e tem prosperado impunemente, por mais que desafie o tempo e envolva alongado processo histórico, sucumbe pela própria maldade. Espera-se que o processo histórico se desincumba de afastar o mal algum dia. A necessidade do próximo apontada pela inteligência do Cristo como baliza primeira de todos a ser saciada, satisfeita, está abaixo do interesse menor que avassala e se agiganta, estando sempre visível, o interesse pessoal e egoísta que esvazia o interesse de todos.
“E o que é o medo da necessidade senão a própria necessidade?”, indaga Khalil Gibran em “O Profeta”.
Não é difícil ver, ao contrário, é usual muitos que têm poder retirarem do medo da necessidade seus interesses pessoais. Isto é violar os mais comezinhos princípios cristãos e vestígios de humanidade. É preciso abrir a porta à inteligência do Cristo para que o interesse particular de gestores dos destinos de coletividades, interesse monopolista e concentrador, não retire o legítimo e natural direito do próximo. E isto não é altruísmo, mas concessão de direitos legítimos dos cidadãos, contrapartida na participação social de coleta de meios ( tributos) para devolvê-los em serviços.
A liberdade é ponto de partida da inteligência do Cristo na busca do caminho, não pode, pois, sob nenhum fundamento, ser suprimida. E suprime-se a liberdade não sendo a mesma veículo da vontade real, mas da vontade captada sob necessidade do representado, principalmente na vontade manifestada para representação política.
O filósofo, jurista, sociólogo, dono da maior obra contemporânea do pensamento, o italiano Norberto Bobbio, morto proximamente quase centenário e ainda produzindo, em sua “A Era dos Direitos”, coletânea de onze ensaios, discorre praticamente irmanado a Jhon Gray:
“O ideal é puramente moral e não pode residir no interesse individual”.
De sua sedimentada sabedoria se colhe: “A história humana é ambígua para quem se põe o problema de atribuir-lhe o “sentido”. Quem ousaria negar que o mal sempre prevaleceu sobre o bem, a dor sobre a alegria, a infelicidade sobre a felicidade, a morte sobre a vida? De minha parte não hesito em afirmar que as explicações ou justificações teológicas não me convencem, que as racionais são parciais, e que elas estão frequentemente em tal contradição recíproca que não se pode acolher uma sem excluir a outra. Mas não posso negar que uma face clara apareceu de tempos em tempos, ainda que com breve duração. Há zonas de luz que até o mais convicto dos pessimistas não pode ignorar”. Obra citada, fls.71,75.
O físico, matemático e astrônomo Laplace, também se sentia pequeno diante dessas indagações que não aproximam nem explicam fenômenos que desfilam sob nossos sentidos a desafiarem respostas, ao revés alimentam incertezas e resultam sem decifrar as condutas ilegitimadas e fechadas ao entendimento das razões do Cristo.
Dizia ele “que nós podemos tomar o estado presente do universo como o efeito do seu passado e a causa do seu futuro. Um intelecto que, em dado momento, conhecesse todas as forças que dirigem a natureza e todas as posições de todos os itens dos quais a natureza é composta, só se este intelecto também fosse vasto o suficiente para analisar essas informações. Seria uma única fórmula como aponta, os movimentos dos maiores corpos do universo e os do menor átomo; para tal intelecto nada seria incerto e o futuro, assim como o passado, seria presente perante seus olhos.”
Do meu livro "A inteligência de Cristo. "