O inverno e suas “ites”.

Ah, esse tal de inverno que tantos dizem amar! Perdi totalmente o amor por ele faz alguns anos. Quando criança, tive uma única crise de asma aos dez anos, me recordo bem, bastante passageira. Tornei-me uma jovem de vinte e poucos anos e em consequência do trabalho com confecção de roupas, em meio ao cheiro de tecidos, poeira, lá vieram as benditas crises de asma. Tratamentos com corticóides, e tudo para poder respirar.

O tal inverno com roupas lindas, elegantes, vinho tinto, passou a ter um sabor diferente para mim, não era mais de meu apreço.

Alguns anos passaram, casei, estava grávida da minha segunda filha, eis que a imunidade baixa por conta da gestação me trouxe novas crises de asma. Pobrezinha da menina, tremia toda dentro do meu ventre! Tratamentos, nebulizações, mamãe com o corpo fragilizado por conta dos medicamentos. Apenas quatro meses de gestação e a pequena já passava por isso. As crises chegaram ao fim e ela nasceu bem saudável.

Chega o inverno seguinte a asma nos pegou! Além de mim, tinha duas crianças para cuidar, uma menina de três anos e uma bebê de alguns meses. Tinha que ser “ninja”, pois os efeitos colaterais eram terríveis e mesmo com o corpo enfraquecido, a bebê ainda mamava e a outra para cuidar também com crises de asma. Venci mais essa etapa. As duas foram crescendo, fui me tornando especialista em observar “chiados” ouvindo seus pulmões e chegava ao consultório sabendo alguns detalhes. Quando sentia que iria ficar difícil, lá corria para a pediatra Dra Alessandra, um anjo em forma de gente que muito me ajudou a cuidar delas. As duas, ainda têm crises algumas vezes no inverno, assim como eu também e agosto de 2018 foi a primeira do ano, mas uma das piores que me recordo de ter sofrido. Um ano com vários dias frios seguidos, mães não tem tempo para si primeiro são as filhas. O médico prescreveu um novo medicamento, que segundo ele, iria ajudar e até reduzir a apneia.

Beleza! Parecia que usar o aparelho da apneia, iria dormir o sono dos anjos. Vinte e seis apneias em uma só noite não deixa a gente acordar muito bem, existe sempre sensação de cansaço.

A reação da medicação foi inchaço do corpo pela retenção de líquido. Barriga linda de viver! Só que não...

Desde os vinte e seis anos, passei bom tempo tentando ter filhos, agora essa tal bombinha da medicação que seria milagrosa, me proporcionou uma bela barriga de grávida. Detalhe, as pessoas olham para a gente reprovando a aparência. Eu pergunto: -Já usaram um monte de corticóides para poder respirar e sobreviver? Passaram noites em claro sem parar de tossir com calafrios pelo corpo todo e no outro dia terem fazer suas tarefas? Pois é muito fácil rir dos outros, achar que não fazem dieta, não fazem exercícios... Não sabe das dores dos outros!

Outros poderão dizer: - Nossa! Sábado você estava num Sarau Literário, nem parece que estava doente! Mas não sabem quanto sacrifício fiz para poder estar lá, ter a satisfação de ouvir minha amada filha recitando com maestria a poesia que fiz para ela. Isso não tem preço! Enquanto viver vou fazer o que puder, respirando bem ou mal como agora, que fiz nebulização e não paro de tossir, sentada na cama para poder respirar porque não dá de deitar, olheiras terríveis, fraqueza no corpo.

Para aqueles acham que as pessoas ficam "gordas" porque querem, não desejo essas crises e nem a reação à medicação. Quero ficar bem! Espero não ter que voltar para hospital e tomara que amanhã esteja boa, para cuidar das minhas tarefas.

Que seja um dia lindo de sol!