ELEIÇÕES
É hora do zelo: pentear os cabelos, escovar os dentes, vestir paletó e apertar o nó (da gravata); é hora do apelo, de subir no palco e interpretar o personagem...hora de ser político...hora de olhar nos olhos do povo e transpassá-los e, enxergar além...hora de chamar a todos, como sendo iguais: "minha gente!" Mesmo que nunca os tenha visto. É a grande hora da mentira.
É hora de mais um show; de pegar nos braços as crianças de colo e fazê-los parte do ato e abraçar as mães, por ter posto no mundo, mais um eleitor (show de bola); quem sabe distribuir entradas para uma outra seção; onde a criança nos braços possa se tornar de fato um ator, onde consiga driblar a miséria...onde aprenda a sobreviver na lama enquanto o protagonista, nada de braçada em alto mar. Sim, é hora do zelo...de fazer o apelo: "votem em mim!"
É hora de fazer papel de mocinho e apontar a todos os verdadeiros vilões de tanta miséria instalada no norte de um povo sem direção...hora de tanger o gado e marcá-lo a ferro e fogo e chamá-lo de seu e trocá-lo de pasto ao seu bel prazer (emprestá-lo) a outro em uma troca de favor, numa barganha eleitoreira de um segundo ato.
É hora de buscar no mato, o gado matuto e fujão e lhe adornar de cabresto...e pô-lo em carrocerias de caminhões e levá-lo ao abate. Mas, é um gado, vendido por necessidade...sem pasto, sem chão. Comendo das migalhas em qualquer cocho... disputando as sobras e agradecendo ao patrão.
É hora do zelo: de contar as cabeças, de rever as manadas lá do sertão; de marcar as crias do ano...de engordar o rebanho e agradecer aos vaqueiros de prontidão. É hora de levar o gado ao leilão... é hora de outra eleição! Quem dá mais?