Cristo neo libertino...
Quando cheguei do assentamento
Da gleba Mercedes,
Fiz, meio sem querer, uma oração
pelos atingidos do alagamento.
Logo depois, meio dormindo, meio acordado,
Saí pra fora do portão.
Quando olhei para a esquina, vi Cristo;
Ele vestia verde e amarelo,
Chamava uma presidente de cadela
E dizia que ela era puta,
Tinha, nas mãos um cartaz,
Ela estava sendo currada
Por uma bomba de combustível.
Elogiava um coronel torturador
E bradava que as minorias,
Ou se entregam ao rigor
Das maiorias, ou simplesmente desaparecem.
Como ele estava sozinho,
Vi bem e vi que era ele mesmo;
Trazia uma bandeira nas mãos
Mas era americana e fazia continência pra ela.
Disse que, se voltasse à terra,
Destruiria os Kilombolas e toda as suas famílias
Seriam mendigas na cidade,
E que nenhum parente seu
Casaria com uma das filhas pretas
Desse povo, pois eles eram educados.
Gritava, desesperado:
"Bandido bom é bandido morto!
Bandido bom é bandido morto!"
Ah, dizia, também, que foi um erro
Defender Madalena das pedras, e que,
Se ela existisse hoje,
Teria que largar de ser puta e trabalhar muito
Mas ganhar menos, pois poderia engravidar.
Perguntei por que ele, mesmo sendo filho de Deus
Ganhava auxílio moradia;
Ele falou: "era pra comer gente"
Foi embora, gritando, que nem um deseperado
e não respondeu uma pergunta sequer,
Só dizia pra gente jair se acostumando, pois, ele era o messias e matava tudo que se move contra ele.
Meus vizinhos do bairro Palmeiras,
Próximo ao Pica-pau esportes, tremiam, eu não...