JESUS CRISTO E A VAIDADE.

"Salomão, de suas observações sobre o desenrolar dos tempos, concluiu que "nada é novo debaixo do sol" e, deplorando a frivolidade humana, declarou: "Vaidade de vaidades. Tudo é vaidade". Isso em confronto com o orgulho presente em tantos e tantos seres humanos, orgulho que caminha desenvolto pelo planeta em todos os tempos, acompanhado da reticente falta de humildade.

Muitos ficam chocados e altamente surpresos quando alguém que podia ascender a cargos mais altos deles abre mão com tranquilidade ou ainda em condições de assumir conduta presunçosa, pondo-se distante por força de seu poder material ou intelectual não o faz. Não compreendem o desapego a títulos e reverências. Não conhecem em toda extensão a riqueza interior e muito menos os valores distantes da corrida diária a que todos se submetem em favor da materialidade pura e simples em prejuízo da sua espiritualidade que não está ao alcance daquele que não a procura, cultua e cultiva.

O que vejo e tenho testemunhado em minha vida particular e pública, com soma majoritária, é vaidade e tolice; vaidade mesmo que inexistam títulos para os que se pensam importantes, tolice na pretensão vazia de forma e substância, e pior, pouca utilidade, total falta de humildade e nenhuma bondade.

Sempre ouvi meu pai afirmar que a vida é utilidade, ou seja, a vida só tem sentido tendo utilidade. O monge Hsing Yun, fundador do Templo Zu Lai em São Paulo, cunhou esta frase: “o valor do ser está em ser útil”. Isto significa ajudar e servir de alguma forma. Mas a vaidade que é berço do egoísmo não permite a prática do “amor, da compaixão e da bondade, qualidades muito úteis para vivermos nosso cotidiano mais harmoniosamente, o que é muito importante para a sociedade como um todo”, como declina o Dalai Lama.

Vale lembrar e reportar a propósito do estigma que representa a vaidade, visita que fiz a um famoso cemitério onde extrai de um talentoso guia verdades contundentes sobre a vaidade que relato.

Lendo revista semanal que é publicada em Paris, Pariscope, dando todos os acontecimentos da semana em geral, eventos, desde concertos em igrejas sem ônus para a recita até exposições, etc, li em "promenades", passeios, "visita guiada ao cemitério Père Lachaise" com especialista no sítio.

Indicado o local de encontro para lá me dirigi, espaço que já tinha visitado não com tanta informação como as agora obtidas, onde celebridades várias da história mundial, de todos os matizes, se encontram sepultadas, local de arte invulgar da estatuária, doado pelo Rei Sol, Luiz XIV, ao seu confessor, Padre Lachaise, transformado em cemitério anos após, sendo antes lagar (produção de vinhos), resolvendo problema sanitário sério de sepultamentos na cidade.

No portão indicado para o encontro estava o guia Thiery Le Roy, era seu nome. Indaguei se era ele o guia e travamos o primeiro contato. Figura interessante, amante do Rio de Janeiro onde desfilou em várias escolas de samba; Beija-Flor, Portela e outras. Elogiou a estatuária do São João Batista, que inclusive tem em seu site o túmulo de Santos Dumont. O guia não era uma pessoa qualquer. Como indicava o anúncio era extremamente culto, conhecia toda a vida dos célebres sepultados bem como dos escultores famosos, cercando suas considerações de notável humor, inclusive.

O guia em três horas e meia de brilhantismo encerrava seus comentários sobre as celebridades, todas poderosas, principalmente quanto aos marechais de Napoleão como Lefebvre, dizendo, mas estão aqui, também, todos mortos. Fazia questão de enfatizar a derradeira condição humana. O mesmo com Proust, La Fontaine, Molière, Balzac, Delacroix, Piaff, Chopin o próprio Kardec e tantos e tantos outros. Era seu acento permanente a mostrar que somos todos iguais, o que poucos entendem, independente de poder, talento ou riqueza.

Somente a Napoleão, o primeiro, ele referiu que, para ver onde está sepultado, há que se ir aos "Invalides". Mas acrescentou, mas também está morto, "ce lá tuée". E lá está o grande conquistador, Napoleão I, em sete caixões de ébano, chumbo e de várias madeiras, que me impressionou a primeira vez que lá fui, no monumental "Invalídes", Inválidos, homenagem aos mortos e sequelados nas guerras napoleônicas, cercado de doze virgens esculpidas por Pradier, renomado escultor da época, com a abóbada do edifício vista brilhando de quase toda Paris em dia de sol, já que coberta de camada de ouro de alguns milímetros de espessura, reposta a cada cinco anos. Mas está morto, também, como deixava sempre patente no Père Lachaise, Thiery Le Roy, o notável guia. Monumento majestático, ao qual fui algumas vezes diante da suntuosidade e beleza; mas guarda restos mortais.

E guarda também a vaidade do Imperador, era seu título.

O especialista e preparado guia nos deu prospectos. Em um deles está escrito, "O Cemitério Pére Lachaise é um teatro onde vivem os mortos e se colocam em cena sobre o tema das paixões e das vaidades humanas. Eu vos convido a me acompanhar ao grande espetáculo da vida e da morte".

A vaidade humana, o grande mal da humanidade!

Napoleão, o grande conquistador, exercendo ao máximo sua vaidade, colocou-se em estátua vestido como um Imperador Romano no alto da colunata, na Place Vendôme, Paris, com 43 metros de altura, cópia da coluna Trajano Romana, em formato cilíndrico com grafias evocando suas conquistas, construída com o bronze dos canhões conquistados na batalha de Waterloo. A coluna da vaidade e da soberba.

Foi pensando na aula de vida que recebi na vista guiada, que na viagem de volta considerei ao que se vê e fica patente, nada importar para o interior humano, para o enriquecimento de sua vida anímica, valores intrínsecos. Superam-nos, por claro, conquistas da ciência com a relevância no campo científico da figura de um Isaac Newton, matemático, físico, astrônomo e filósofo inglês, apontado por muitas inteligências indiscutíveis como o mais revolucionário em descobertas, o ser destacado que identificou as leis da atração universal, 1687, além de formular em 1669, com aproximadamente vinte e sete anos, a teoria da luz branca, achando ao mesmo tempo que Leibnitz as bases do cálculo diferencial.

Capitaneando essas conquistas da ciência, a vaidade e a arrogância nunca se inibem em acumular honrarias de pouca expressão, sem dar espaço à humildade. Se muita relevância no progresso material e científico traz e trouxe a ciência para a humanidade, muito pouco trouxe de paz e compreensão para o espírito Da evidência não se colhe nada mais que a certeza.

Como exemplo, se a lei gravitacional mudou o conceito do planeta em ciência, isso não muito longe, no século XVI, confirmando as leis de Kepler, tudo datam menos de quatrocentos anos,

nada se compara a grande transformação da humanidade que chegou antes com a semeadura espiritual do Cristo. Não foi a ciência que lembrou ao homem seu grande diferencial. Não foi a lei da gravidade, mas o amor do Cristo e sua inteligência, imutáveis e perenes, os grandes veículos que alteraram de forma inigualável as relações do homem, do convívio sob quaisquer ângulos, religiosamente, filosoficamente, moralmente, enfim, socialmente, em vetores com interação plena impulsionadores do homem em suas manifestações grandiosas e celebradas do pensamento.

Assinalando a vida no planeta, sua temporalidade, o Deus-Homem marcou a ampulheta do tempo, antes e depois de sua chegada, quando anunciou ao mundo a boa nova da ausência de egoísmo; o amor ao semelhante. É a única doutrina sempre esquecida, posta de lado por aqueles por quem Ele derramou seu sangue para afastar de todos qualquer possibilidade de vaidade, embora ela persista. Não há maior humildade do que se deixar crucificar, se entregar ao suplício sem reações Aquele que veio como filho de Deus. Não há passo que se dê sem estarmos diante dessas irradiações fortemente incisivas. Existe um elo único com centro de gravitação, não a de Newton, física, material, mas dessa força singular de luz, luz espiritual, ligando a tudo e a todos. É perceptível, uniforme, aproximada pelos sentidos, pois gera a dinâmica em cadeia que movimenta tantas outras vocações célebres, arrastando desde invulgares exteriorizações do intelecto, modificadoras de costumes e regras, até os mais simplórios e primários entendimentos.

Há uma como que coesão nessas construções do pensamento, dos mais simples aos mais festejados e reconhecidos. Há uma latência de movimento que aproxima, uma instância de convergência. É o que Jung chamava de inconsciente coletivo que como ondas fluem e refluem, sem exceção, nunca com a mesma luz de notáveis personagens alinhados à doutrina do Cristo que vieram ao mundo exclusivamente para melhorá-lo, mas inseridos também no processo histórico-evolutivo. Todos grãos da mesma praia arenosa, densa e de proporções eternizadas no evolver. Muitos seres públicos fizeram-no com formidável grandeza, outros na intimidade de sua singeleza; mas a marcha de todo esse contingente humano está guiada, mesmo sem sabê-lo, por suas predestinações originárias. É a incansável procissão da esperança onde a marcha da humanidade se insere através dos movimentos que apuram as sensibilidades e reconfortam àqueles que se entregam a esse ideal com todas as forças pelas conquistas que objetivam burilar e lapidar o interior do homem.

O eixo, a força motriz dessa marcha é a doutrina do Cristo, sua inteligência".

Do meu livro "A Inteligência de Cristo".

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 06/08/2018
Código do texto: T6411049
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.