Migalhas de pedra
por Gustavo Pilizari
Sinto certa pressão no corpo - principalmente na garganta -, mesmo estando totalmente livre de vestimenta, cachecol ou adereço para cobrir do friozinho que acaricia minha garganta.
É engraçada a sensação de lentamente caminhar por entre ruas estreitas, de céu tomado por duro concreto pesado dos edifícios. Pareço ser esmagado pelas paredes tão limítrofes; uma certa insignificância se apropria de minhas manifestações psíquicas. Sou enterrado pela verticalidade profunda dos céus de cinza estrutura: a terra reelaborada em seu melhor – imagine que pó um dia, agora frieza pétrea.
Uma cova apertada por onde caminham os homens; paredes rijas, que nos cercam com seu desprezo e nojo amargo, de face desalente...
Uma opressão projetada pelo homem, que moldou a natureza no seu lado mais perverso, sem sorriso ou expressão de caricias e aconchego. O que deveria nos abraçar – já que somos os criadores desta verticalidade de pedra – nos torna o nosso esfarelamento simbólico.
Meu corpo é todo migalhas nesta incompreensão apertada e fria... um plangor gela meu corpo, e amarra minha garganta...
Criamos cidades que não nos aceitam, não nos convidam a estar lá.
A cova nunca pareceu tão bem arquitetada...