Migalhas de pedra

por Gustavo Pilizari

Sinto certa pressão no corpo - principalmente na garganta -, mesmo estando totalmente livre de vestimenta, cachecol ou adereço para cobrir do friozinho que acaricia minha garganta.

É engraçada a sensação de lentamente caminhar por entre ruas estreitas, de céu tomado por duro concreto pesado dos edifícios. Pareço ser esmagado pelas paredes tão limítrofes; uma certa insignificância se apropria de minhas manifestações psíquicas. Sou enterrado pela verticalidade profunda dos céus de cinza estrutura: a terra reelaborada em seu melhor – imagine que pó um dia, agora frieza pétrea.

Uma cova apertada por onde caminham os homens; paredes rijas, que nos cercam com seu desprezo e nojo amargo, de face desalente...

Uma opressão projetada pelo homem, que moldou a natureza no seu lado mais perverso, sem sorriso ou expressão de caricias e aconchego. O que deveria nos abraçar – já que somos os criadores desta verticalidade de pedra – nos torna o nosso esfarelamento simbólico.

Meu corpo é todo migalhas nesta incompreensão apertada e fria... um plangor gela meu corpo, e amarra minha garganta...

Criamos cidades que não nos aceitam, não nos convidam a estar lá.

A cova nunca pareceu tão bem arquitetada...

Gus Pilizari
Enviado por Gus Pilizari em 06/08/2018
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