Memórias de Oficce-boy!

No começo dos anos 70 eu era oficce-boy externo numa empresa

financeira que tinha sede na rua Barão de Itapetininga perto da Dom

José de Barros no centro de São Paulo.

Tenho muitas saudades daquele tempo onde percorria o centro

diariamente entregando notas, faturas e todo tipo de correspondência

para clientes que se localizavam entre a Praça da Sé e a Praça da Re-

pùblica e as vezes percorria bairros adjacentes como Liberdade, Brás

e outros que poderiam ser percorridos a pé.

O que me traz divertidas lembranças era a hora do almoço onde

eu e mais uns quatro ou cinco "boys" que trabalhavam na mesma

empresa iamos almoçar de graça na Liga das Senhoras Católicas onde

apenas dois tinham o cartão da Liga nos obrigando fazer um reve-

samento.

Os que aguardavam a vez ou já tinham almoçado esperavam

os outros na Praça Ramos em frente a escola de balet da Prefeitura

apreciando as meninas vestidas naquela delicada roupa de baila-

rina e fazendo comentários maliciosos.

O que mais se via no centro da cidade era "boys" brincando de

girar a pasta de serviço na ponta do indicador direito, a não ser se fosse

canhoto, e a solidariedade entre eles nos cartórios, bancos e na Junta

Comercial onde um, por falta de tempo, fazia o serviço do outro e

vice-versa.

Hoje a cidade não é mais a mesma, ficou muito perigoso andar no

centro. A cracolândia, o número crescente de moradores de rua e o

risco de roubos e assaltos inviabilizam curtir o centro como antiga-

mente quando não existiam Shopping Center e as lojas da "cidade"

como o Mappin, Mesbla e tantas outras que fecharam com o tempo.

A galeria que liga a Barão de Itapetininga a 24 de Maio era ponto

de encontro da rapaziada do movimento "Black" e onde tomavamos

cerveja, mesmo sendo menores, em dia de pagamento.

A cidade anda muito maltratada ultimamente e os motoboys se

encarregam de fazer motorizado o que antigamente faziamos a pé

curtindo cada espaço do centro dessa metrópole fascinante

Uma pena que o Centro esteja tão deteriorado e perigoso mas

ele está presente na memória de muitos que foram Oficce-boy

naquela época e que fazem parte da história de São Paulo.

andaluz
Enviado por andaluz em 05/08/2018
Reeditado em 05/08/2018
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