DIVAGAÇÕES SOBRE AGOSTO
Pequenas crônicas do cotidiano:
(AGOSTO 2014)
Tarde de agosto,com seus cheiros e ventos.
Ventos de agosto !
Quando em criança, ficava ouvindo lendas a cerca deste mês.
Alguém dizia que era mês de cachorro louco, mês do desgosto, do agouro e outras amenidades do gênero.
Minha mãe - que era uma pessoa sensível - consertava os estragos dizendo:
É o mês das floradas, das violetas e junquilhos.
Vez e outra o vento batia forte na janela de madeira e o impacto era violento, fazendo valer a afirmativa daqueles que viam agosto pelo lado macabro.
Em contrapartida, cruzando pelas pereiras, podia vislumbrar o desprender-se de milhares de pequenas pétalas brancas, tão minúsculas que pareciam nevasca, entrando casa a dentro.
Ao fundo do quintal, margeado por um pequeno riacho de águas claras ,margaridas do charco abriam-se em profusão.A campina estendia-se num tapete verde pontilhado de quero queros e sabiás precoces principiavam cantigas do acasalamento.
Um sabiá gorjeia agora em meu quintal e o mensageiro dos ventos insinua-se numa sonoridade que me faz mergulhar em mundos desconhecidos.
No meu local de trabalho, além da janela, odores de agosto despertam-me a memória olfativa, evocam a cozinha de minha infância, o café das três, as falas mansas tecendo imagens do mês dos ventos, do mes dos cheiros e agouros...
No cenário de hoje, sob um céu fumarento ,passeia uma nostálgica lembrança de agostos distantes. Dos quintais das nonas , dos laranjais floridos, dos carroções de feno na estrada da minha aldeia.
Vou para o meu café da tarde, numa cozinha silenciada das "falas mansas"de minha meninice, embora junquilhos digam-me em cheiros que no arquivo da memória a casa do tempo mergulhada em ventos de agosto, ainda persiste.