JESUS O PRIMEIRO MÁRTIR. MÁRTIRES DE NOSSOS DIAS.

Muitos no correr dos ciclos da humanidade foram perseguidos por amor à justiça. O primeiro mártir que sofreu horrores na condição de homem por amor à justiça, sendo seu paradigma, foi Cristo. Quantos morrem hoje pelas desídias dos governantes, assistimos a isso na modernidade midiática.

A sagacidade das mulheres, sensíveis em soma maior do que os homens, fez Prócula, mulher de Pôncio Pilatos, advertir seu marido, autoridade romana que julgava Cristo, do sonho que tivera, antevendo o sofrimento de uma mãe, e disse: “Pilatos! Não reajas contra o destino! O destino avisou-te pelo meu sonho! (fala com as mãos na cabeça). Por que fizeram os deuses os homens livres? Eles se tornaram mais fortes que o destino...mais duros que o destino! Atende-me Pilatos! Não te manches no sangue do Justo! (fala olhando Jesus). Este sangue, que ao menos ele sirva para te libertares do maior dos crimes! Para te restituir ao destino que me avisou em sonho!”

O sonho de Prócula mostrava uma mulher e seu filho era morto. Pilatos tinha na fronte gravada com letras de fogo uma horrível palavra. Quando o condenado expirou, todo o corpo de Pilatos ficou negro e em sua fronte brilhava mais viva a horrível palavra misteriosa que Prócula não declinou, guardou em sua mais profunda intimidade tal era a mácula que significava.

O amor à justiça e sua decorrente perseguição é das mais marcantes páginas da história, a que encerra os mais meritórios e modificadores movimentos em prol da humanização do homem para realização de sua possível felicidade. O desfile dos mártires continua na recusa dos princípios do Cristo, assistimos a essas crueldades a tal ponto que uma neta pela repetição diária do que se vê nos hospitais pela tv me disse: vovô, tira disso. Tem só onze anos.

A vaidade que recusa a recepção do amor ao próximo, cimentada de cinismo, é mais forte que a fome e que o interesse material prontamente realizado. E ela está enraizada fortemente nas sementes do mal. Mais vale a prevalência do arbítrio da vontade que desserve, do que o bem que estabelece a doação e o reconhecimento do semelhante como irmão em igualdade. Em solidariedade mínima de quem assume a responsabilidade de Estados.

Para o vaidoso, ele e suas criações, mesmo maléficas, estão acima de qualquer valor. E os mártires, os perseguidos por pretenderem fazer justiça, como Cristo, ou os que são vítimas coletivas, continuam em seus sofrimentos, indiferentes aqueles que conhecem este lado nefasto na história de crueldades omissivas.

Deram e dão suas vidas por este objetivo, com ou sem consciência. Se buscarmos em suas motivações os grandes movimentos pela libertação dos homens de todos os jugos, de todos os grilhões, lá estará a inteligência do Cristo e, conscientemente ou não, os seguidores de seus princípios.

Milhares morreram em nome das liberdades humanas desde os primórdios em número de difícil e cansativa listagem, passando pela marcante revolução francesa, chegando aos horrores do nazismo, das guerras todas até hoje, do comunismo, das ditaduras de todos os tons, até a recente “limpeza étnica” na Bósnia pelos sérvios, com passagem no terrorismo de todos os matizes que peca em matar inocentes no desvario inconsequente de que os fins justificam os meios, devastador princípio político com origem em Maquiavel, muito apreciado em nossos dias, lamentavelmente, para detenção e posse do Poder.

Somente para apontar dois gigantes em meio a tantos outros, a bradarem contra iniquidades, lembramos Luther King e Gandhi.

João Paulo II falava com frequência aos cardeais, padres e fiéis, sobre o martírio aos quais dirigiu suas encíclicas. E ele definia o martírio como “a mais alta demonstração da verdade moral para a qual poucos são chamados”, “era o auge da disposição de morrer pelo esplendor da verdade”.

Esse seu entendimento, “o sangue dos mártires é a semente dos cristãos”, dizia. Se voltarmos ao passado, veremos o quanto de verdade existe na afirmação.

A Igreja Católica foi construída sobre o sangue dos mártires a partir do precioso Sangue de Cristo, passando pelos anônimos mortos nas arenas romanas, disponíveis para morrer pela crença, pelos santos supliciados e por todos que morreram pela fé. Isso ainda permanece no que seria “nossa civilização”, está entre nós. Pior que a lapidação de Estevão, é a mortandade de massas dos “sem rosto”.

Como um rio caudaloso e forte o sangue dos martirizados foi e é a vida da Igreja Católica que desembocou no mar de esperança que todos ainda nutrem na bondade humana, como uma “parúsia”, que seria a volta do Messias, de Jesus, pela segunda vez, como previsto por São Paulo.

Muitos e muitos sem nome e sem rosto para a publicidade antiga, chamemos de mídia contemporânea, sofreram martírio por amor à justiça, às verdades inteiras, religiosas e morais, enlaçadas ambas, consciente ou inconscientemente, como os que morrem sem assistência em nossos “hospitais”. Sofreram e sofrem sem estarem inscritos nas páginas da história. Movidos pelo destemor e pela coragem os que hastearam bandeiras contra a opressão, e nada pediram em medalhas ou condecorações para lutarem pelas grandes causas, que sempre se situam nas conquistas pelos bens mais excelentes da humanidade; liberdade de pensar e agir, religiosa e civil.

Martírio e mártir são elementos da mesma peça no teatro da história, mas os desassistidos são os novos Cristos, que não inscreveram os nomes que sempre serão cultuados pela nobreza das ideias defendidas, e pelas quais morreram personalidades destacadas, porém tão ou mais significativos são os de nome desconhecidos que sofreram as mesmas agruras.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 03/08/2018
Reeditado em 03/08/2018
Código do texto: T6408582
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