REDES SOCIAIS: UMA BREVE REFLEXÃO FILOSÓFICA

Não há como ignorarmos o fenômeno cada vez mais crescente das redes socais. Dia após dia elas exercem  influências em nossas vidas, nossos trabalhos e até em nossas famílias. Criam novos líderes, favorecem a disseminação de verdades e boatos. Mas até que ponto isso é bom ou ruim? Quais as consequências e interferências dessa avalanche de exposições  no mundo virtual em conexão com o mundo real?

Tentaremos, a partir de uma abordagem simplista e à luz da filosofia, analisar os efeitos provocados pelas redes sociais no cotidiano das pessoas.

Nitidamente, o objetivo dessa explanação não é julgar nem condenar os usuários das referidas plataformas, dentre os quais nos incluímos. Sem dúvidas, são mecanismos que ofertam informações, entretenimentos e "aproximam" pessoas que estão a quilômetros de distância. Entendemos, porém, que uma análise mais profunda se faz necessário, justamente em razão da importância que esse "universo paralelo" tem tomado em nossas vidas.

Apenas para ilustrar nosso ponto de partida, salientamos as palavras de Hamlet e Ofélia: "Deus te dá uma face, e você se dá a outra".  Até que que ponto o uso exagerado das máscaras  virtuais não será  irreversível para todos nós? Qual limite estabelecemos para nossos comportamentos públicos e privados? Seria verídico afirmar que a "casa invadiu a rua e a rua invadiu a casa?" É hora de meditar sobre o tema.

A priori, precisamos ressaltar que, conforme o dicionário, a palavra virtual significa irreal, simulado, resultado de uma demonstração.

Assim sendo, podemos iniciar nossa prosa sobre as redes sociais que, com toda certeza, nossos leitores conhecem e utilizam constantemente essas ferramentas disponibilizadas pela propagação da internet nessa era tecnológica.

Raríssimos são os casos de pessoas que não possuem um perfil numa determinada rede e, quando não, elas dispõem de um aplicativo de mensagens para se comunicar através do telefone. Portanto, pode-se dizer, sem medo de errar, que estamos, de certa forma, conectadas com a evolução tecnológica e a comunicação global está experimentando seu ápice.

Se formos aqui elencar todas as vantagens  e desvantagens da utilização das redes sociais em massa, necessitaremos elaborar um livro sobre o assunto e esse não é nosso propósito e tão pouco temos competência para tal empreitada. Conforme mencionamos acima, limitaremos a analisar alguns aspectos e, sobretudo, apimentar com uma pequena dose de filosofia.

O advento das redes sociais trouxe algumas mudanças de hábitos para a sociedade. Por exemplo, é mais importante e prazeroso postar uma foto estando num restaurante conceituado com um belo prato à mesa do que, propriamente, saborear a comida. Se os amigos, os conhecidos, os contatos não souberem que encontramos ou estivemos  naquele local glamouroso, então não vale a pena degustar aquela iguaria e pagar o preço, geralmente, alto para usufruir do padrão da casa.

Acreditamos que esse comportamento motivado pela exacerbada exposição social/virtual/real tem relação com a filosofia e com a psicologia. Entretanto, quanto a segunda, não nos aventuramos emitir nenhum conceito  pois nada conhecemos do mundo Freudiano. Já, quanto a primeira, temos uma minúscula noção e por ser um campo intimamente ligado ao pensamento especulativo  e a subjetividade, torna-se mais fácil e prático caminhar.

Ao longo dos tempos, o homem nunca se contentou com as explicações fornecidas sobre a existência e sobre o universo. A mente humana sempre quis mais e nessa inquietude surgiram os conceitos que nortearam a ciência, a filosofia e os demais ramos do conhecimento humano a proporcionar tudo o que temos e dispomos hoje.

Estamos no mundo real, sensível; nele nos deparamos com imperfeições, quer sejam essas frutos de nossa imaginação ou simplesmente desejos projetados num ideal distante. Sendo assim, pode ser que estejamos no caminho certo para encontrarmos explicações para o crescimento das redes socais tanto em número quanto em publicações.

Para tentarmos compreender o mundo virtual, precisamos convencionar o seguinte: vivemos num mundo real, onde trabalhamos, construímos famílias, adquirimos bens etc.. Imaginamos ou cremos na existência de um mundo espiritual(mundo das ideias, como preconizava Platão, de onde vem o conhecimento). Sonhamos com um mundo ideal(Utopia de Thomas  Morus - sem injustiças, com igualdade social e a redenção do homem). Chegamos a mais recente criação: o mundo virtual. Qual será a razão de tamanho crescimento e exposição das pessoas nesse campo imaginário?

Enfrentamos tribulações, aflições e as diversas dificuldades para alcançarmos nossos objetivos no mundo real; nos vemos distantes de atingirmos o mundo espiritual devido ao enfraquecimento da fé e perdemos gradualmente as esperanças de chegarmos a um mundo ideal graças a multiplicação das injustiças, violências, corrupções etc., resta-nos agarrarmos ao mundo virtual. Nele assumimos o controle, projetamos nossos ideais, nossos sonhos e nossas fantasias. Criamos  nossa própria identidade à imagem e semelhança do que almejamos e daquilo que gostaríamos que a sociedade atribuísse a nosso respeito.

Não importa o quanto estamos endividados no cartão de crédito, cheque especial e demais linhas de financiamentos ao consumidor. Nas redes sociais vamos passar uma imagem de prosperidade, segurança e requinte. Por isso, ao fazer uma viagem de lazer  compartilhamos tudo com o  público que nos acompanha. Queremos mostrar os bons momentos diários,  quer sejam nos bares, nas reuniões e até nas Igrejas, afinal, é bom que saibam que estamos felizes, realizados e ligados ao Criador. Nas redes sociais a mãe é uma mãezona, o filho um exemplo,  o pai um verdadeiro varão que cuida e protege a família. Os relacionamentos são perfeitos e os namorados cada vez mais apaixonados e dedicados. Lá se projeta  tudo aquilo que queremos mas que nem sempre atingimos na vida real.

Se no passado Karl Max afirmava ser a religião  o ópio do povo pois funcionava como lenitivo para as dores, sofrimentos e desesperanças dos abandonados pela sorte, hoje podemos acreditar que as redes sociais são as molas propulsoras para driblarmos as angústias e desventuras por não estarmos no patamar idealizado/desejado.

Apesar de tudo, inclusive dos perigos que a maciça exposição nas redes sociais podem nos submeter, essas ferramentas tem grande utilidade no momento em que vivemos. Muitas pessoas utilizam destes mecanismos para alavancar o trabalho e melhorar a renda. Precisamos entender que "nem tudo é muito bom e nada é tão ruim". Não devemos ir com muita sede ao pote. Afinal, uma boa dose de prudência não faz mal a ninguém.

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