Por mais de três vezes William Shakespeare abordou sobre o envelhecimento, em peças como Júlio César, Ricardo III e Rei Lear. Pois o envelhecer é o grande tema que Rei Lear nos traz e, o fez com delicadeza, paixão e loucura. Um dos grandes personagens é o Bobo da Corte que segue sempre junto ao Rei.
O bobo era ousado e dizia verdades ao ritmo de músicas e rimas, de forma crua e direta. Uma frase impactante ficou em minha memória arcaica: -“Tu não devias ter ficado velho antes de ter ficado sábio”.
Com a sabedoria finalmente aprendemos a compreender as coisas, e aceitá-las, mesmo quando muito diferentes. Mas ficar sábio significa como já disse Jorge Furtado, "vencer a burrice que é uma África" e, minha ingenuidade que é uma Ásia (com olhos puxadinhos) e minha estupidez que corresponde às três Américas.
Minha pobre sabedoria é um pinguinho de terra num oceano de incertezas, fustigado pelas tempestades amnésicas e, de repente, me assusta pensar que envelhecer antes de ficar sábio, seria uma inutilidade ou um ponto fora da curva?
Já pesa sobre meus ossos, mais de meio século e, as notícias que acumulei, algumas são conhecimento, outras são curiosidades e, outros sentimentos e valores infinitos.
Deve haver, afinal uma arte de envelhecer. De cativarmos a vida dentro da pedra incrustada no peito, a que chamamos coração. De lapidar esse cristalino dos olhos para captar o essencial. Pois, enfim, o essencial é invisível aos olhos, só vemos bem com o coração. E, este resiste ao tempo.