Para estudar para concurso, um clipe
Quem já assistiu ao filme Rocky, qualquer um deles, e vê ele se matando de treinar em uns 5 minutos com uma música de fundo e no final do filme ele vence a luta deseja e sonha que isso pudesse acontecer com ele. Essa parte onde há todo o treinamento chama-se clipe. Nos clipes, presentes em vários filmes, mas marcantes no Rocky, semanas, meses ou anos se passam em uma duração de uma música tema. Então como seria isso na vida de um concurseiro?
Muito bem, vamos parafrasear Balboa. Primeiro vem o auge, o pico. Você, sem estudar muito, chega a quase se classificar em um concurso. Fica feliz da vida. Nem estuda para o próximo. Faz a prova, chega a achá-la fácil, mas ao ver o resultado: “Por duas posições!” Então você faz seu terceiro concurso. Esse você lê um pouco o regimento interno do órgão. Faz a prova e passa! Sim você passou! Sua felicidade foi tanta que você se esqueceu de tomar posse. Exato, talvez burrice ou estupidez. O fato é que você perdeu o prazo e não há nada mais para fazer, perdeu! Essa perda significa a sua queda e com essa queda, de todos os outros concursos que você fará para frente, não irá nem chegar perto.
Você está desolado. Não estuda, não se inscreve para nenhum outro, nem em cursinho. Deram-lhe livros de auto-ajuda, conselhos, ofereceram estágios, mas nada o moveu. Então chega alguém, um grande amigo, uma namorada, um parente, que com um discurso grandioso o convence que você ainda pode lutar, digo, passar. Te inscreve em um concurso muito bom, digamos ministério público, inicial 3000, e, de repente, começa uma música tema. Você poderia escolher qualquer uma, animada e de 3 minutos de duração, mas, ainda parafraseando o boxeador, toca Eye of the Tiger.
Aqui é a melhor parte, todo o trabalho duro, todo o esforço e todo o cansaço inexistem. O concurso seria em 3 meses, mas por força do clipe passam-se apenas 3 minutos. Durante esse tempo mostra várias imagens do seu treinamento, digo, estudo. Nas primeiras imagens, você apresenta muitas dúvidas, não entende direito, dorme em cima do livro, mas sempre com seu alguém do lado para te ajudar. Soluciona suas dúvidas, mostra onde no livro está a resposta e te acorda com cheirinho de café. Depois dessas várias cenas o cenário muda. Você já está muito bem, melhor até que o outro que te ajudava. Agora você que explica a matéria para ele, fala que tal livro está errado, o outro que está certo e cobre o alguém com um lençol quando esse dorme de cansaço ao seu lado na madrugada enquanto você estuda. A música está chegando ao fim. Então você se prepara para a grande cena do clipe. Em uma velocidade incrível vai escrevendo no caderno enquanto lê um livro e no último ponto você fecha o caderno e o livro, deixa seu lápis na mesa, se encosta as costas na cadeira e levanta os braços e grita: “Yes!” Então a música para e aquela cena de você gritando congela por alguns segundos e a tela fica preta.
O clipe acaba, mas tem-se que mostrar o resultado de todo aquele clipe ou, de outra forma, ele terá ausência de veracidade. Você chega ao local de prova, provavelmente uma escola particular. Confere sua sala, compra uma caneta de tinta preta esferográfica de reserva, sua identidade na mão, garrafa de água, saquinhos de mel e o dinheiro para o ônibus. Senta-se na cadeira, encara o fiscal de prova, respira fundo, “Tá tudo bem, eu tive um bom clipe”, entregam a prova e você começa a fazê-la. Bolinhas e mais bolinhas. As primeiras são bem difíceis de preencher, mas, ao ressoar na cabeça a voz do alguém junto com várias outras de encorajamento, elas vão ficando mais fáceis. E a prova acaba. Sai o resultado e correm ao bar onde você está para gritando que você passou! Em décimo sétimo lugar! E todos os seus amigos e familiares no bar levantam os copos e gritam de alegria.
Seria maravilhoso se fosse assim não? O problema é justo que a vida não tem clipes. Você realmente tem que se esforçar. Fazendo-o, quando olhar para trás, poderá ver tudo isso como o clipe que descrevi acima, apenas basta se esforçar. (Mas ainda assim desejamos o clipe, não?)