Breve e conciso, talvez

 

Ai dos que não conseguem manejar com destreza um período longo, dizia Jorge Luis Borges, pois nunca produzirão um texto verdadeiramente conciso.

De fato, ainda nas águas do insuperável escritor argentino, a frase concisa não deve ser confundida com a frase meramente breve, embora esta última, em condições de excelência literária, possa reunir a um só tempo as características de brevidade e concisão.

Exemplos disso são o famoso conto "O dinossauro", de Augusto Monterroso — "Quando acordou, o dinossauro ainda estava lá" —, e, sem cabotinismo, o meu curioso "Desbitola", sempre bem recebido por onde andou — "Olho atônito à distância, o trem ficou preso no horizonte". Mas, em sua crítica, o nosso querido Borges tinha em mente o estilo telegráfico, teimosamente telegráfico, que tomara conta da ficção em geral a partir dos anos 1950.

Acato a opinião borgiana. Sou dos que admiram, por exemplo, a página e meia numa única frase do começo de "Os infortúnios da virtude", do Marquês de Sade, que dá um show de leveza sem tirar o fôlego do leitor. Entre nós, Vieira, Euclides da Cunha e Lúcio Cardoso são outros craques nesse aspecto. Mas cuidado: o período longo tem o seu lugar e a sua hora. Em excesso, pode até matar. Não matou Molly Bloom, é verdade, mas ali o papo era outro.


[28.12.2005]