TABERNA HITECH
Deixei o carro onde pude, numa ruazinha ali entre a Chapada e o Planalto. Está cada dia mais impossível estacionar em Manaus! Depois, segui a pé até meu destino, a dois quarteirões dali. Ao voltar para o carro, vi que estava perto de onde era a taberna do Teotônio, nos tempos em que morei pela primeira vez em Manaus, na segunda metade dos anos 1980. Por curiosidade, resolvi checar o que haveria no lugar da antiga taberna. Imagine a minha surpresa ao dar de cara com a própria e, em seguida, vislumbrar o rosto bonachão do Teotônio, hoje beirando os 90! Pois que, naquela época, já ultrapassara a metade da casa dos 50.
A mesma cara, o Teotônio. Apenas os cabelos, hoje encanecidos, e o timbre de voz um pouco cansado denunciam a passagem das mais de três décadas transcorridas desde que nos vimos pela última vez. Cumprimentei-o e ele respondeu algo desconfiado ao meu cumprimento. Acho que demorou um pouco para se lembrar de mim. Conversamos por uma meia hora, lembrando os velhos tempos e a "pinguinha" que ele me servia de brinde, já que eu era um de seus fregueses mais frequentes. Quis servir-me uma, mas agradeci e dispensei, explicando que hoje moro longe dali e que teria que dirigir de volta para casa.
A taberna ocupa o mesmo velho e precário prédio térreo, hoje espremido entre arranha-céus inexistentes em 1986. Intriga-me a resistência de tal estabelecimento às mudanças que a cidade experimentou, ao advento dos shoppings centers, e à multiplicação de supermercados e mercearias sofisticados. Mas alguns detalhes não me passaram despercebidos: a velha balança de dois pratos e pesos foi substituída por outra, eletrônica; o caderninho, em que ele anotava os "fiados" dos fregueses, deu lugar à famosa maquininha de cartões de crédito e débito. A taberna do Teotônio virou "hitech"!
Despedi-me prometendo voltar lá uma hora dessas. Abracei o Teotônio e desejei-lhe longa vida, com muita saúde! Não me lembro de antes haver desejado isso com tanta verdade e intensidade como o fiz para o Teotônio. Talvez porque esse reencontro me restituiu a lembrança de um tempo em que ainda era possível sonhar. E, com certeza, porque Teotônio e sua taberna são testemunhos vivos de uma Manaus ainda um tanto provinciana, de pessoas mais ingênuas, mais originais e, por isso, mais humanas e acolhedoras.