Um velho ditado

Ela andava desatenta pelas ruas. Sem perceber que a seguiam, cantarolava a sua felicidade aos quatro ventos. Inocente. Não notou que, enquanto espalhava o seu amor por todos os lados, havia olhos à espreita, apenas aguardando o momento certo de pará-la na rua, pegá-la pelo braço e jogá-la na cova dos leões.

Um dia, ousou deixar claro para o mundo, com suas palavras, que a vida seguia em frente feliz, apaixonada, pacífica, plena. Gritou para o norte e para o sul que o seu coração não se encontrava em pedaços, mas forte e amando. Foi quando, então, os olhos se mostraram corpo. Materializou-se na sua frente, olhou-a nos olhos e a atingiu onde sabia que mais a machucaria, na sua crença sobre si mesma. Ela acreditava em seus atributos, em sua música, em suas letras. Ela era fiel ao seu coração e jamais buscou ferir a quem amou. Mas assim o fez e fora lançada ao seu julgamento. Palavras duras. A sentença proferida refletia não apenas mágoa ou rancor, mas o desabafo de alguém que percebia felicidade para quem desejava que sofresse do mesmo modo que sofrera.

Ela precisava, no entanto, passar por esta situação para entender duas coisas: a primeira é que não se pode deixar de viver para proteger outros; a segunda é que, às vezes, é melhor deixarmos a felicidade cantar dos fones de ouvido para dentro de nós e não para fora.

Laura Cardoso
Enviado por Laura Cardoso em 31/07/2018
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