Lua de sangue? Não...
Lua, professora da saudade.
Orestes Barbosa
1. Sexta-feira, 27 de julho de 2018, olhando para a lua, lembrei-me do que, sobre nosso satélite, disse Mario Quintana (1906-1994). O saudoso poeta fez esta genial pergunta: "Que haverá com a lua que sempre que a gente a olha é com o súbito espanto da primeira vez?" Concordo com o estraordinário vate dos pampas.
2. Na dita sexta-feira, por exemplo, por volta das 18 horas, a lua nasceu com a cara avermelhada! Nascia eclipsada. Um eclipse anunciado com estardalhaço. Era um eclipse diferente. A lua nascia enferrujada. Sem o argênteo brilho que a faz encantadora.
3. E assim ela permaneceu enquanto durou o eclipse. Foi sem dúvida um espetáculo. Graças aos deuses, tive a felicidade de vê-lo com meus netos. Claro que espetáculos siderais ainda mais surpreendentes, inusitados, eles verão; eu não...
4. Para dar maior realce ao eclipse, eis que a lua enferrujada, na sua caminhada pelas estradas do Céu, teve como companheiro o planeta Marte. Marte que também, nos últimos dias, foi manchetes em todos os jornais do mundo. É que, descobriu-se que no planeta vizinho também tem água. Qui bom!
5. A lua é o astro querido dos cronistas, poetas, menestréis, prosadores, romancistas, compositores e cancioneiros. É também o astro amado pelos sonhadores (eu, um deles!) e pelos apaixonados, homens ou mulheres, de todas as idades. Todos buscam nela inspiração para alimentar seus devaneios.
6. O saudoso cantor alagoano Augusto Calheiros (1891-1956), na conhecida valsa "Prelúdios de Sonata", diz que "a lua é um disco em que o Criador gravou uma canção/ Tocada pelos anjos/ um conjunto/ numa grande orquestração".
7. E vejam o que dizem reverenciadas celebridades no meio artístico e literário. Cecília Meireles: - "Tenho fases, como a lua: fases de ser sozinha, fases de ser só tua". Confúcio: - "A ignorância é a noite da mente, uma noite sem estrelas e sem lua".
Buda: - "Três coisas não podem ser escondidos por muito tempo: o sol, a lua e a verdade". Júlio Verne: - "Um dia visitaremos a lua e os planetas com a mesma facilidade com que hoje se vai de Liverpool a Nova York".
8. O inigualável Catulo da Paixão Cearense, na sua linguagem matuta (matuto ele nunca foi!) cantou a lua em longos e belos poemas. Em "Luar do sertão", por exemplo, ele diz que a onça levou um tempão "vendo a lua, a meditar".
Em "Terra caída", o vate maranhense brinda-nos com este verso: "Deus é o rei dos violêro,/ quando canta o seu amô,/ nas cordas santas da lua,/ que é a viola do Senhô".
9. Orestes Barbosa, jornalista, compositor de belíssimas canções - "Suburbana", "Arranha Céu" -, trouxe a lua para suas composições, todas inesquecíveis. Agrippino Grieco, implacável nas suas críticas, disse certa ocasião que nos poemas de Orestes "há uma doçura lunar insuperável".
E foi além: "...quando não posso olhar a lua no Céu, vou procurá-la, seguro de que não a acharei menos bela, nas estrofes de Orestes Barbosa".
10. Do poeta e compositor de "Chão de estrelas", um versinho de uma de suas canções: "Eu fiz tanta serenata/ Que a lua banhada em prata/ Mandou mil beijos pra mim./ E os beijos foram tão puros/ Que meus cabelos escuros/ Ficaram brancos assim".
11. Atento, pois, à ternura que a lua traduz, permitam-me dizer que não gostei de vê-la, no eclipse da sexta-feira, chamada de "lua de sangue". Não cai bem falar em lua ensanguentada. Me desculpem os que não concordam com este "selenita" apaixonado.
12. No dia 21 de janeiro de 2019, a lua volta a oferecer a nós, pobres terráqueos, o mesmo show. Alô, senhores, tratem, por favor, de dar ao nosso satélite, no momento de sua rápida e passageira transfiguração, outro qualificativo. Se é para chamá-la, outra vez, de "lua de sangue", de lua ensanguentada, esqueçam-na...
Lua, professora da saudade.
Orestes Barbosa
1. Sexta-feira, 27 de julho de 2018, olhando para a lua, lembrei-me do que, sobre nosso satélite, disse Mario Quintana (1906-1994). O saudoso poeta fez esta genial pergunta: "Que haverá com a lua que sempre que a gente a olha é com o súbito espanto da primeira vez?" Concordo com o estraordinário vate dos pampas.
2. Na dita sexta-feira, por exemplo, por volta das 18 horas, a lua nasceu com a cara avermelhada! Nascia eclipsada. Um eclipse anunciado com estardalhaço. Era um eclipse diferente. A lua nascia enferrujada. Sem o argênteo brilho que a faz encantadora.
3. E assim ela permaneceu enquanto durou o eclipse. Foi sem dúvida um espetáculo. Graças aos deuses, tive a felicidade de vê-lo com meus netos. Claro que espetáculos siderais ainda mais surpreendentes, inusitados, eles verão; eu não...
4. Para dar maior realce ao eclipse, eis que a lua enferrujada, na sua caminhada pelas estradas do Céu, teve como companheiro o planeta Marte. Marte que também, nos últimos dias, foi manchetes em todos os jornais do mundo. É que, descobriu-se que no planeta vizinho também tem água. Qui bom!
5. A lua é o astro querido dos cronistas, poetas, menestréis, prosadores, romancistas, compositores e cancioneiros. É também o astro amado pelos sonhadores (eu, um deles!) e pelos apaixonados, homens ou mulheres, de todas as idades. Todos buscam nela inspiração para alimentar seus devaneios.
6. O saudoso cantor alagoano Augusto Calheiros (1891-1956), na conhecida valsa "Prelúdios de Sonata", diz que "a lua é um disco em que o Criador gravou uma canção/ Tocada pelos anjos/ um conjunto/ numa grande orquestração".
7. E vejam o que dizem reverenciadas celebridades no meio artístico e literário. Cecília Meireles: - "Tenho fases, como a lua: fases de ser sozinha, fases de ser só tua". Confúcio: - "A ignorância é a noite da mente, uma noite sem estrelas e sem lua".
Buda: - "Três coisas não podem ser escondidos por muito tempo: o sol, a lua e a verdade". Júlio Verne: - "Um dia visitaremos a lua e os planetas com a mesma facilidade com que hoje se vai de Liverpool a Nova York".
8. O inigualável Catulo da Paixão Cearense, na sua linguagem matuta (matuto ele nunca foi!) cantou a lua em longos e belos poemas. Em "Luar do sertão", por exemplo, ele diz que a onça levou um tempão "vendo a lua, a meditar".
Em "Terra caída", o vate maranhense brinda-nos com este verso: "Deus é o rei dos violêro,/ quando canta o seu amô,/ nas cordas santas da lua,/ que é a viola do Senhô".
9. Orestes Barbosa, jornalista, compositor de belíssimas canções - "Suburbana", "Arranha Céu" -, trouxe a lua para suas composições, todas inesquecíveis. Agrippino Grieco, implacável nas suas críticas, disse certa ocasião que nos poemas de Orestes "há uma doçura lunar insuperável".
E foi além: "...quando não posso olhar a lua no Céu, vou procurá-la, seguro de que não a acharei menos bela, nas estrofes de Orestes Barbosa".
10. Do poeta e compositor de "Chão de estrelas", um versinho de uma de suas canções: "Eu fiz tanta serenata/ Que a lua banhada em prata/ Mandou mil beijos pra mim./ E os beijos foram tão puros/ Que meus cabelos escuros/ Ficaram brancos assim".
11. Atento, pois, à ternura que a lua traduz, permitam-me dizer que não gostei de vê-la, no eclipse da sexta-feira, chamada de "lua de sangue". Não cai bem falar em lua ensanguentada. Me desculpem os que não concordam com este "selenita" apaixonado.
12. No dia 21 de janeiro de 2019, a lua volta a oferecer a nós, pobres terráqueos, o mesmo show. Alô, senhores, tratem, por favor, de dar ao nosso satélite, no momento de sua rápida e passageira transfiguração, outro qualificativo. Se é para chamá-la, outra vez, de "lua de sangue", de lua ensanguentada, esqueçam-na...