BATE PAPO ESPIRAL

Hoje vasculhando minha estante te encontrei naquele canto só. Vejo teu olhar tristonho, capa amassada, rasgada meio amarelada. Vem-me um sentimento de culpa de não te dar atenção necessária nestes anos de convivência. Coloco-me a perguntar: o que eu fiz com meu amigo? Porque o abandonei tão de repente? Chego à conclusão que pequei. Cometi uma grande heresia para contigo. Substitui-te por coisas banais, como me perder defronte a tevê em busca de passatempos ilusórios, revistas de moda, de fofoca enquanto que no canto da estante estava a me esperar desfolhar tuas páginas em busca de alimento para minha mente, meu espírito. Perdoe-me por esta heresia, confesso sentir-me envergonhado por tal atitude. Mas tenho uma confissão a fazer: sem perceberes eu desfolhei algumas páginas e lá encontrei maravilhas de me sentir feliz. Por exemplo, na página 60 deparei-me com lindos versos rimados, cheio de paixão à primeira namorada, não é incrível? Nas páginas seguintes e nas anteriores localizei sonetos, poemas e poesias que falavam de amor, liberdade, emoção e compaixão. Revi lembranças de paisagens da minha infância que outrora me confortara. Recordei noites de luar na relva molhada fazendo juras de amor. Procurei mapas em busca de roteiros para uma viagem ao tempo sem preocupar-me com a volta, pois não tenho pressa. Minha promessa é colocar-te em primeiro plano sem engano tal qual um cigano que caminha em busca de novos horizontes reverenciando os montes, as pontes, as fontes. Perante a tua presença assumo compromisso de sempre visitar-te pelo menos uma vez a cada dia de minha existência. Caminharei contigo de mãos dadas, não atadas para sentirmos livres em nosso caminhar sem possessão, sem arranhão, mas com muita paixão de uma forma espiral como tal é o nosso caminhar, não linear.

Valmir Vilmar de Sousa (Vevê) 21/05/18