Próteses.
Próteses.
A rotina dos cafés me irritam profundamente e hoje decididamente eu não ia tomar café num café, mas algo me dizia que eu deveria entrar naquele estabelecimento comercial e como eu não sou de fugir das minhas intuições resolvi adentrar, mesmo contra a minha vontade.
Minha mesa estava de frente para um pilar onde havia um grande espelho o que me dava um campo de visão extraordinário das minhas traseiras.
Peço o meu café com uma torrada, neste ínterim entra um senhor idoso, dono de uma tosse acompanhada de muito catarro e senta-se atrás de mim, pede um bagaço, para quem não sabe bagaço é uma bebida de alto teor alcoólico, segundo ele seria para curar a tosse.
Neste café é permitido fumar, se bem que os exaustores estavam desligados como sempre para não gastarem energia, mas quando uma fiscalização chega eles ligam de imediato.
Após ter bebido o bagaço, o senhor retira do bolso de seu casaco um pacote de fumo de rolo, estende o papelote sobre à mesa e numa elegância incontestável enrola o seu cigarro, passa a língua no papel e cola.
Acende o cigarro, pede uma garrafa de água, um café com um folhado de queijo e fiambre, após ter comido tudo remove as duas dentaduras da boca a superior e a inferior, põe no pires, retira um lenço do bolso enrola no dedo indicador e limpa as duas dentaduras, depois, como se nada fosse enfia os dentes na boca abre o jornal, cruza as pernas e começa a ler.
Eu estático, olhando para o espelho e em pensamento perguntei: Espelho espelho meu existe alguém mais seboso do que este homem?
Velto Silva