CIDADANIA

Todos conhecem o ditado. Um dia é da caça, o outro é do caçador. Lembro isso porque no próximo dia 16 começa, no país, a temporada de caça, que vai até o dia 07 de outubro, em primeiro turno. E a caça somos nós, eleitores. Farejados, perseguidos e sitiados em cada esquina, em cada metro quadrado das vias públicas e até nos labirintos virtuais. Ninguém escapa. Nem dentro de casa, nossa toca. Asilo outrora inviolável.

Lá também estarão eles – os caçadores – adulando sua presa com palavras de ouro. Ou engalfinhados em debates televisivos. Arranhando-se.

Tudo bem. É a democracia, notável herança dos gregos, que chega ao terceiro milênio.

O que proponho então, nestas breves linhas, é que você, caro eleitor, caríssima eleitora, seja uma caça consciente. Não se deixe apanhar pelo canto da sereia. “Sob a pele das palavras há cifras e códigos”, escreveu o poeta itabirano.

Você tem quase três meses para separar o joio do trigo. Identificar o lobo e o cordeiro. Ah, não encontrou o candidato ideal? Vote no melhor. Naquele que abraçava as crianças antes de ser candidato. Naquele que sempre lhe devolveu o bom-dia e a boa-noite nos elevadores. Naquele que nunca quis negociar o seu voto.

Ele existe. Pode ser um espécime raro, mas existe.

E lembre-se. No dia 07 as eleições serão gerais. É uma oportunidade histórica para uma “limpa” também geral. Nessa data você é o rei. Vossa Excelência é você. Não subestime o seu voto como se ele fosse um grão de areia no deserto. Ele, somado ao meu, ao do vizinho, ao do pobre e ao do rico, desaguará, como os rios, num oceano de cidadania.

Portanto, amigo eleitor, faça do dia 07 de outubro não um simples feriado, mas um dia santo. Nesse dia – nesse único dia – os caçadores esquecerão a deusa Diana para honrar a Deusa-Urna.

Mas quem ela espera é você.

Não a decepcione, portanto.

Vista sua roupa domingueira, perfume-se, beije seus filhos (ou seus pais) com redobrado carinho e dirija-se para lá, para o templo.

Mas não se apresse. Antegoze o momento.

Se houver fila na seção eleitoral, não se irrite. Não é fila de banco. Ninguém vai tomar seu dinheiro.

Aliás, se eu fosse você, não votaria de imediato, contrariado, como se estivesse numa reunião de condomínio.

A urna é sua namorada secreta, sua amante. Aquela que você só encontra de quatro em quatro anos. Corteje-a. Toque-a com dedos de veludo. Teclas se farão pétalas, e ela se abrirá ao seu toque.

E, aí, quando finalmente você lhe entregar seu voto, como uma oferenda, faça-o com fé, amor e confiança. A fé com que o enfermo reza pela sua cura. O amor com que a noiva se despoja de sua virgindade. E a confiança com que a criancinha indefesa dá a mão ao pai.

Vai ser assim que eu votarei no dia 07.

Se você fizer o mesmo – e sua família e seus amigos e seus vizinhos – evitaremos um fenômeno que normalmente ocorre depois das eleições: a caça vira caçador. Caçador de emprego, de saúde, de segurança, dos direitos mais elementares.

Que só lhe serão prometidos, de novo, passados outros quatro anos.

Estamos combinados, então. Dia 07 de outubro.

Você não vai perder essa oportunidade, vai?

Pereirinha
Enviado por Pereirinha em 28/07/2018
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