COCADAS DE COCO COM RAPADURA
Dona Sefinha fazia a melhor e mais saborosa cocada de coco e rapadura do mundo, apesar da idade avançada. Usava uma miniatura de escada engraçada, com quadrados perfeitos que fazia cada cocada exatamente igual às demais. Eu e meus irmãos, todos crianças, acompanhavamos ansiosos o processo de manipulação dos ingredientes que formavam a guloseima. Com água na boca, xeretávamos enquanto o coco ralado borbulhava com a rapadura de cana, colocada inteira na panela, que logo se transformava num líquido viscoso e se homogeinizava com ele até se tornar o mais apetitoso doce de coco pastoso prestes a virar cocada ainda fumegante na escadinha sobre um tabuleiro coberto por um pedaço de papel de enrolar pão. Com habilidade de quem rotineiramente fazia isso, dona Sefinha metia a colher de pau na panela, que voltava cheia, e ia pondo as poções entre os degraus e, como uma artista talentosa, retirava o excesso, limpava os lados e prosseguia calmamente de cima para baixo e de baixo para cima como se subisse e descesse da escada. Esperava alguns segundos, pegava nas extremidades da escadinha, desgrudava as cocadas e a recolocava novamente sobre o tabuleiro para recomeçar e preparar mais cocadas até que só restassem raspas na panela quente. Brigávamos para passar os dedos gulosos nas raspas, mas todos lográvamos nosso quinhão do doce, deixando a panela quase tão limpa como se tivesse sido lavada. Magrinha, boca funda pela falta dos dentes, dona Sefinha impunha disciplina e somente nos permitia comer as cocadas quando estavam frias e maleáveis e se derretiam no céu da boca. Mamãe deixava por conta dela esse controle, confiava que dona Sefinha não nos deixaria extrapolar o número de cocadas saboreadas. Esperando as cocadas esfriar, de olho afiado para evitar o surrupio sorrateiro de cocada por algum de nós, ela lavava a escadinha, a colher de pau, o rapa-coco e a panela, depois sentava num tamborete para nos contar estórias de Trancoso e, com isso, refrear nossa ansiedade de atacar o tabuleiro das cocadas ainda quentes.
Gilbamar de Oliveira Bezerra