Acidente surpresa no deadline
Era final de tarde. O comércio fechava as portas, as pessoas voltavam para casa, o trânsito ganhava volume e o sol se despedia de mais um dia. O jornal também caminhava para seu fechamento. Já era possível ouvir o barulho das máquinas rodando os primeiros cadernos. Na redação chega uma notícia URGENTE. Um crime acabara de acontecer num bairro da cidade. Os três melhores repórteres de polícia do jornal foram enviados para cobrir a tragédia. Eles tinham pouco mais de uma hora para voltarem com informações suficientes para construir a notícia.
Para cobrir aquele fato, o jornal mandou três repórteres – dois jovens repórteres recém-formados e um já mais velho e bem experiente – que ainda estavam na redação e que podiam escrever a notícia para ser publicada ainda naquela edição. Eles pegaram o carro e chegaram no lugar combinado. A cena do crime envolvia dois corpos femininos caídos numa avenida, um carro de luxo que se envolveu num acidente a poucos metros do local, ambulâncias, polícia e uma multidão de curiosos.
Os três repórteres começaram a apurar o que teria acontecido ali; a polícia que estava presente parecia que não entendia ainda aquele cenário. Os dois jornalistas mais novos ouviram fontes oficiais, supostas testemunhas, parentes das vítimas e depois analisaram evidências que haviam. Todos pareciam calmos, porém perdidos.
O primeiro repórter, ansioso para ter sua primeira manchete, logo foi rabiscando o lead. Ele olhou por alguns minutos os corpos, fez mais alguns telefonemas e pensou algumas teorias. Ao final de tudo ele afirmou que as moças teriam sido atropeladas por um condutor embriagado que posteriormente perdeu o controle do veículo e sofreu um acidente ao passar naquela rua que era escura ao anoitecer.
O segundo repórter, com mais tempo de jornal que o primeiro, ficou assustado ao ver a cena do crime. Este repórter foi entrevistando todos os que estavam presentes no acidente, usando toda sua memória da câmera para conseguir a foto da capa, conversou com as testemunhas e logo chegou a conclusão: as mulheres tentaram se matar. As vítimas andaram até a avenida e um carro de luxo vinha em alta velocidade, atingiu elas e fugiu da cena do crime.
Observando atentamente todos os detalhes, o repórter mais experiente percebeu que os curiosos estavam nervosos, as meninas no chão tinham feridas, mas não sangravam. Pareciam se mexer, mas não estavam preocupadas. Andou alguns quarteirões e viu que estavam bloqueados com fitas que bloqueava a passagem de muitas pessoas com placas. O veterano ultrapassou a fita, andou mais algumas ruas e conversou com um idoso que dissera que a movimentação ali na cena do crime já era grande desde cedo. Ele voltou a cena do crime e percebeu que tinha muitas câmeras, muitos refletores e só os três como repórteres e ninguém mais da imprensa. Logo ele concluiu que era um alarme falso e se tratava da gravação de uma cena para um filme.