Outras inutilidades de grande importância

Tenho escrito diversos textos mentais. Mas caso queira ler, haveria de ao menos cruzar o meu caminho, e como das outras vezes em que minhas letras assim saíam, você haveria também de saber ler um olhar. São por essas janelas que eles morrem. Talvez eu lhe adiante que eles têm dito algo sobre a gente e nossa não história, e talvez por isso eu lhe afirme que esse é o real motivo de não terem se materializado em palavras.

Confesso, minha habilidade no manuseio das letras fica comprometida quando sinto que as coisas não estão boas – embora você pense o contrário e atribua minhas crises à posição da lua no momento em que nasci. Eu já me vi diante de tantos dedos apontados, inclusive o seu, que mesmo sem me conhecer direito tem inúmeras observações a fazer sobre meu jeito de sentir, de ser, e até escrever. E sei que desde aquela madrugada em que você me viu, sempre fui um eu diferente de acordo com o você escalado para que eu pudesse existir.

Em outras palavras, eu já tentei te agradar de todas as formas – e você sempre tão intocável - não sei lidar com o "não falar". É fácil pensar que aquele você, daquela madrugada, na verdade nunca existiu. Algo me diz que eu não preciso me moldar tanto. E embora eu ainda deseje que você cruze meu caminho, penso que você não saberia ler esse olhar. O que é uma pena não é mesmo? Meus olhos sempre têm algo a dizer.

Por mais acefato, choros e sapos que somos obrigados a engolir, tô acreditando que todo o mal-estar vem mesmo de ter que provar a todo tempo o quão lindo é o que sentimos por dentro. É a "não chance" com alegação de cuidado. Eu não vou te chamar para esse texto, e sozinho você provavelmente não virá. Eu não vou mais te chamar. Aquele você, daquela madrugada, viria. Esse de agora não. Então talvez isso seja um adeus.

- Finalmente resolveu escrever sobre mim?

- É isso que os escritores fazem: eternizam pessoas.

no fundo eu sei, silêncio também é mensagem.

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Textos De Quinta - um a cada quinta (ou não)

Não é promessa, é só desejo.

Marília de Dirceu
Enviado por Marília de Dirceu em 26/07/2018
Reeditado em 27/07/2018
Código do texto: T6400978
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