--------------- CADÊ VOVÓ?
 
Ah, já não se fazem vovós como antigamente, alguns dirão. E não se fazem mesmo! A vovó anda sumida, desde aquela vez em que o Lobo Mau a engoliu, para a tristeza e má sorte de Chapeuzinho. Coitada da vovó, acamada, com acessos de tosse, ouvidos enormes, nariz imenso e boca grande: tudo para o bem da menininha da capa vermelha! Só que não! Atrás da figurinha resfriada se escondia o Lobão que deu cabo da boa velhinha que, além de tudo, não ganhou nem doces nem flores da netinha cabeça-de-vento, que se distraíra pelos matos.

A vovó evoluiu e vem evoluindo. Aos sessenta, ela nem sonha abrir mão dos seus sonhos. Aposentou o casaquinho que normalmente carregava sobre os ombros. Despenteou o eterno coquinho enrolado na nuca. Trocou os óculos pela cirurgia, foi ao dentista renovar o sorrisão. Não bastasse, partiu pras academias, e malha mais que qualquer jovenzinha de vinte. Também não se prendeu à condição da aposentadoria e parte pra jornada dupla de trabalho, que muitas vezes é tripla ou pra lá disso. Hoje as vovós nem sempre fazem jus ao lindo e comovente “cabelos de prata e coração de ouro”. Na verdade, o ouro do coração pode até não ter mudado, mas os cabelos não se prendem necessariamente ao prata: podem ser verdes, azuis, roxos e vermelhos, na versão radical das vovós mais radicais, altamente na moda. Tá podendo, a velhinha que antes se limitava ao conforto de sua poltrona, em frente à TV tecendo seu crochê até a hora de ir pra cama, agasalhada em meias e moletons quentinhos, no resguardo aos ventinhos traiçoeiros das madrugadas. Atchim!

Aos domingos e feriados, as vovós também querem folga. Chega de forno e fogão, enchendo vidros de amanteigados e balinhas de mel para a delícia da molecada. A comida self-service é conforto e descanso para as mãos que já cozinharam além da conta, cuidando de horários corridos e criançada faminta indo e voltando da escola. Hoje as cozinhas repousam mais em paz e já não trazem obrigatoriamente o constante cheirinho do pão de queijo saindo de manhãzinha ou no meio da tarde, direto para a mesa cercada de gente à espera do cafezinho fumegante, sempre à hora.

Aonde andam as vovós? Andam por onde andam os netos, acompanhando-os em passeios. Viajam mundo, percorrem e partilham as mesmas aventuras. E mais: se lançam às modernidades da tecnologia. Possuem Whatsapp e navegam no Facebook. Integrantes ativas das redes sociais, pilotam seus computadores e celulares, muitas vezes com o mesmo desempenho da moçada. E quem achava que vovó era só pra dar conselhos, se enganou. Muitas vezes, elas é que se aconselham com os mais verdinhos, querendo abstrair conhecimentos e expandir possibilidades.

Quem andar pelas orlas das praias, verá o charme das vovós em seus óculos de sol e suas malhas coladinhas — sem nada de coitadinhas! Elas também entram na onda, praticam saúde. Vão à busca de alternativas nos centros de treinamento, nas terapias alternativas. "Mens sana in corpore sano" — uma mente sã num corpo são. Quem duvidar, olhe à volta, elas estão por toda parte. Se antes os sessenta eram sinal de parada, agora são só uma pausa: é o tempinho de respirar e retomar o comando da situação.

Embora noutra perspectiva, as vovós seguem adiante — com um agravante no melhor dos sentidos: contam com os benefícios da maturidade, são mais sábias e donas de si. E que diferença faz a experiência incorporada à sensação de se sentir mais segura e confiante. Como chorar a vovó triste e acabrunhada, relegada à ideia da velhice precoce de antigamente? Só há o que festejar e comemorar pela dignidade conquistada: o direito de viver, e viver melhor lhes pertence por completo, vovós! Velhice não vai além de um conceito — e cruel se torna, quando vira sinônimo de abdicar-se do que poderia ser vivido intensamente. Ser avó, não significa ser uma velhinha às voltas com lãs e agulhas, não pelo menos apenas isso. É mais! É viver plena e profundamente a condição de ser mãe outra vez, desta vez adoçada com mel e açúcar. Pois que assim seja a delícia desse tempo maravilhoso de se ser avó...