Assim ... nem tanto.146
Alcino
Nasceu assim. O peso acima da média, o ar de anjinho barroco e bruto. Tudo o que tocasse não virava ouro como em Midas, mas acabava partido, avariado, desfeito. Muitas vezes abria por curiosidade os brinquedos e destroçava-os a seguir sentindo-se, depois, lesado. Mamã e Papá não era a boneca que dizia e para confirmar que uma boca que se não mexe não tem palavras para dizer, arrancou a cabeça daquela e esventrou a sumaúma do corpo até achar o fole dos sons indiferente ao choro da irmã. Na Escola, ainda tentaram que não batesse nos outros meninos mas ele usava os pés e os punhos à menor contrariedade. Odiava ser comparado com exemplares crianças como as que não se sujavam, não cuspiam, não batiam e só tinham Bom a tudo. Ele, Alcino, era o tipo de criatura que todos gostavam grelhado ou de, ao menos, não ter por perto. Indomável, asneirento, capaz de amedrontar o mais corajoso, cresceu e fez-se homem sempre sob críticas e ralhos. Admirava-se a avó da sua inteligência, do bem que lhe lia as notícias ou as bulas da medicação. Com ela, era doce. – Achas que caso, avó? Pensas que a Madalena, se lhe pedisse, namorava comigo? E a avó acenava com a cabeça ainda que acreditasse ser difícil alguém ver o outro lado não selvagem do rapaz. - Aceitava, respondeu. E o jovem acreditou.