O MUNDO GLACIAL DOS ESCRITORES
Na fria Mutum, depois de uma tarde cinza, eu faço algumas visitas às páginas no facebook dos amigos que escrevem e publicam nas mais diversas formas disponíveis para os dias de hoje. Vou parabenizando cada um com um Feliz Dia do Escritor.
A arte de ser escritor é dificultosa. Não é nada fácil, mesmo o pessoal que fazem as chamadas oficinas de escrita criativa não mentem. Querem preparar os pretensos futuros escribas para os perrengues que esse ofício introduz no sonho de ver seu texto lido por milhares de olhos.
Se alguém se propõe escrever para vender muito precisa entender e se sujeitar às tendências de mercado. Se o momento é de fantasia, tome fantasia, se for terror, vamos de terror. Sinceramente não dá. Cada um que escreve se dá bem com determinado estilo.
É igual roupa. Cada um se sente bem com um determinado tipo de vestuário. Eu, particularmente, não gosto de gravata, mas há quem goste. Outros gostam de roupas sociais e outros de roupas mais esportivas.
Tem também a questão de geração. A garotada está mais antenada ao que o mercado está oferecendo nos dias de hoje. Ou seria o contrário? Foi o mercado que entendeu bem a geração que cresceu lendo Harry Porter.
Eu fico na linha das escritas mais conceituais. Assim defino os estilos poéticos que, ora crio, ora sigo. E ao fazer tal afirmativa, surgem dúvidas. E a dúvida é uma frente fria que abraça a mente do escritor. Minhas dúvidas são se posso chamar de conceitual, se é esse o termo correto. Assim como me referir aos leitores betas em certa ocasião como leitor alfa. Um amigo me corrigiu fraternalmente em forma de questionamento. Então decidi seguir escrevendo sobre as minhocas que apodrecem a minha mente, mas passei a duvidar se posso atribuir a mim o título de escritor.
O que fazer com o que escrevemos? Autopublicar? Colocar no Wattpad? Sweek? Enviar para uma grande editora? É na frieza da dúvida que o escritor sente a glacialidade do seu ofício. A dúvida pode até mesmo ser um iceberg a afundar nosso titanic de ideias.
O escritor não é como urso polar. Não evoluiu para hibernar. O escritor precisa manter suas veias quentes e a mente em ebulição. Por isso escreve mesmo na dúvida. Não escrever é padecer, é não sobreviver à era do gelo que se instala na vida de cada um de nós. Escrever se torna vital.
Mas entre as minhocas que se nutrem das ideias em putrefação na minha mente permanece a dúvida. Eu sou um escritor? Usei dois versos de uma das belas canções do Barão Vermelho, Pense e Dance, "Saudações a quem tem coragem/ Aos que tão aqui pra qualquer viagem". É minha saudação a quem tem coragem de se expressar nessa difícil arte chamada literatura. A quem em coragem de compartilhar seus escritos, mesmo carecendo de revisões gramaticais e ortográficas. A quem tem coragem de publicar de modo independente ou se arrisca a enfrentar o funil das grandes editoras. Aos que estão na literatura pra qualquer viagem, seja na fantasia de uma história passando pelo sombrio da alma ou pela iluminação efêmera de uma paixão. Seja quem se estende em uma prosa ou se encurta no minimalismo de um microconto, seja nas métricas de um soneto ou na liberdade dos versos metafóricos dos poemas concisos. Seja qualquer viagem na literatura, nunca é uma viagem qualquer. Vicia, mas não destrói a dignidade como os alucinógenos, prende, mas não com as férreas limitações de uma cela.
Desejo a quem tem coragem, aos que estão aqui para seguir viagem, sobrevivendo na glacialidade da solidão necessária para a criação no ardor do desejo de ser lido por tantos outros olhos. E se não for lido, não faz mal. O sangue aquecido durante o processo de criação é o suficiente para a gente sair por aí, vendo nossos personagens em cada esquina e poesia em cada voo de cada borboleta. A gente ri, internamente, daqueles que nos chamam de lunáticos. Mas só quem consegue suavizar as dores das relações superficiais com a profundidade da criação literária sabe que entre tantas vaidades, a nossa é a única que nos leva a viajar entre as estrelas, mesmo com os pés no chão.
Feliz Dia do Escritor ao colegas Recantistas!
A arte de ser escritor é dificultosa. Não é nada fácil, mesmo o pessoal que fazem as chamadas oficinas de escrita criativa não mentem. Querem preparar os pretensos futuros escribas para os perrengues que esse ofício introduz no sonho de ver seu texto lido por milhares de olhos.
Se alguém se propõe escrever para vender muito precisa entender e se sujeitar às tendências de mercado. Se o momento é de fantasia, tome fantasia, se for terror, vamos de terror. Sinceramente não dá. Cada um que escreve se dá bem com determinado estilo.
É igual roupa. Cada um se sente bem com um determinado tipo de vestuário. Eu, particularmente, não gosto de gravata, mas há quem goste. Outros gostam de roupas sociais e outros de roupas mais esportivas.
Tem também a questão de geração. A garotada está mais antenada ao que o mercado está oferecendo nos dias de hoje. Ou seria o contrário? Foi o mercado que entendeu bem a geração que cresceu lendo Harry Porter.
Eu fico na linha das escritas mais conceituais. Assim defino os estilos poéticos que, ora crio, ora sigo. E ao fazer tal afirmativa, surgem dúvidas. E a dúvida é uma frente fria que abraça a mente do escritor. Minhas dúvidas são se posso chamar de conceitual, se é esse o termo correto. Assim como me referir aos leitores betas em certa ocasião como leitor alfa. Um amigo me corrigiu fraternalmente em forma de questionamento. Então decidi seguir escrevendo sobre as minhocas que apodrecem a minha mente, mas passei a duvidar se posso atribuir a mim o título de escritor.
O que fazer com o que escrevemos? Autopublicar? Colocar no Wattpad? Sweek? Enviar para uma grande editora? É na frieza da dúvida que o escritor sente a glacialidade do seu ofício. A dúvida pode até mesmo ser um iceberg a afundar nosso titanic de ideias.
O escritor não é como urso polar. Não evoluiu para hibernar. O escritor precisa manter suas veias quentes e a mente em ebulição. Por isso escreve mesmo na dúvida. Não escrever é padecer, é não sobreviver à era do gelo que se instala na vida de cada um de nós. Escrever se torna vital.
Mas entre as minhocas que se nutrem das ideias em putrefação na minha mente permanece a dúvida. Eu sou um escritor? Usei dois versos de uma das belas canções do Barão Vermelho, Pense e Dance, "Saudações a quem tem coragem/ Aos que tão aqui pra qualquer viagem". É minha saudação a quem tem coragem de se expressar nessa difícil arte chamada literatura. A quem em coragem de compartilhar seus escritos, mesmo carecendo de revisões gramaticais e ortográficas. A quem tem coragem de publicar de modo independente ou se arrisca a enfrentar o funil das grandes editoras. Aos que estão na literatura pra qualquer viagem, seja na fantasia de uma história passando pelo sombrio da alma ou pela iluminação efêmera de uma paixão. Seja quem se estende em uma prosa ou se encurta no minimalismo de um microconto, seja nas métricas de um soneto ou na liberdade dos versos metafóricos dos poemas concisos. Seja qualquer viagem na literatura, nunca é uma viagem qualquer. Vicia, mas não destrói a dignidade como os alucinógenos, prende, mas não com as férreas limitações de uma cela.
Desejo a quem tem coragem, aos que estão aqui para seguir viagem, sobrevivendo na glacialidade da solidão necessária para a criação no ardor do desejo de ser lido por tantos outros olhos. E se não for lido, não faz mal. O sangue aquecido durante o processo de criação é o suficiente para a gente sair por aí, vendo nossos personagens em cada esquina e poesia em cada voo de cada borboleta. A gente ri, internamente, daqueles que nos chamam de lunáticos. Mas só quem consegue suavizar as dores das relações superficiais com a profundidade da criação literária sabe que entre tantas vaidades, a nossa é a única que nos leva a viajar entre as estrelas, mesmo com os pés no chão.
Feliz Dia do Escritor ao colegas Recantistas!