CONSCIÊNCIA PESADA

Depois de um exaustivo dia de trabalho Pedro Lucas

não queria outra coisa, nada lhe era mais desejado do

que o seu cantinho com aquele tecido resistente

suspenso por dois ganchos na parede - a boa e velha

rede.

Pois bem vontade de sentida desejo realizado. Era

assim que funcionava entre ele e sua adorável esposa

Claudilene. Não precisava nem ele pedir que ela já

adivinhava o seu pensamento.

A tarde ia embora e sua rede o aguardava como de

costume. Já devidamente preparada por sua mulher. -

Pronto pode ir se deitar amor, disse ela enquanto o

esperava sair do banho. Logo depois foi conversar com a

sua mãe que morava ao lado.

Fora a pessoa de Pedro Lucas Não havia mais

ninguém em sua casa e o silêncio era absoluto. Então

finalmente se deita para o que gosta de chamar de "o

descanso do guerreiro".

Nesse meio tempo a noite já vinha chegando , e, ele

bem... estava bastante furioso por ter acordado contra

sua vontade. E o motivo de toda a sua fúria não era outro

senão um comício a três ruas da que ele morava.

Com o fim do show pirotécnico o que se ouvia em alto

e bom som eram as mesmas promessas de sempre.

Sem falar das delações sobre as falcatruas de seus

respectivos adversários. Ou outro dizendo que desta vez

iria ser diferente... que pudesse acreditar nele... Por por fim as mesmas baboseiras se escuta a cada dois anos.

Mesmo assim com todo aquele barulho o sono estava

quase lhe vencendo . Quando de repente escutou uma

voz aguda e penosa - o senhor poderia me dar um pouquinho de comida? Aquele momento virou o rosto e procurou quem era o dono daquela voz.

Era um menino franzino, de pés descalços, roupas

curtas e velhas, cabelo por cortar e bastante assanhado.

Por ter observado melhor do que o escutado, pediu-lhe

que repetisse o que tinha falado. E assim ele o fez - é que

eu estou com muita fome ,será que o senhor não poderia

me dá pelo menos o que sobrou do seu almoço?

Com o tom da voz bastante alterada e o rosto rigidamente franzido ele lhe respondeu que não tinha nada. E ainda disse mais -sai daqui menino porque você não vai pedir a esses políticos que estão aí na outra rua?

No mesmo instante percebeu que os olhos aquele menino começaram a lacrimejar. Porém ainda de cabeça baixa querendo esconder o choro de quem é só mais uma vítima inocente lhe responde assim: -Senhor eles não me dão não. Logo depois agradeceu assim mesmo , deu a volta e foi embora.

Por um breve instante Pedro Lucas ficou refletindo

sobre a resposta e a profundidade que continha nas

palavras daquela simples criança. Foi aí que lhe bateu

um enorme sentimento de culpa acompanhado de muito

arrependimento. Então após sua reflexão resolveu procurar o menino para dar-lhe alguma coisa. Contudo já era tarde e ele não se encontrava mais aquela rua.

Igor da Silva Chaves
Enviado por Igor da Silva Chaves em 25/07/2018
Reeditado em 25/07/2018
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