Há um ponto em que nasce um herói no adeus

Retornou da escola reprovado no amor e empregando argumento de autoridade, irrevogável, conferiu ao tédio o seu luto. Quinze anos e o primeiro caso encerrado. Obrigação de pai procurar detalhes sobre a hecatombe do amor.

Chorar? Não chorava. Da necessidade que dele emanava, havia mais que o pranto, reflexão fina e sarcasmo. Era o “filho do mudo pranto” gastando o primeiro embate diante do cine jornal das dez. No silêncio da noite continuaria procurando o ajuste adequado para o amor bombardeado. Caso nada encontrasse, deveria evitar o desvio pelo consolo etílico. Pela manhã, diante do pão com geléia e café,revelaria o óbvio.

- Arrume outra!

Pronto. Estas são as regras se o amor foi à lona. Talvez ele tomasse aquilo como ofensa grave, tratando-se do primeiro, o amor imortal.

Consultar a opinião dos cancioneiros, dos poetas, seres com liras, contava ponto. Tudo acaba tudo recomeça. Depois o melhor encontro ocorre do nada, naquele espaço sem roteiro, reside ali o novo drama. Uns esbarrões e caem às compras num tipo de tropeço que nunca poderá ser confundido com punguista. Não faltará táxi, saída de baile ou brutal tempestade. Do antigo amor ferido e vivo surtirá nova referência. Nova víscera.

Lembrou do casal de amigos em férias. José e Maria residiam em São Paulo, mas se conheceram somente em Porto Alegre. Morando janela com janela no quinto andar na mesma grande São Paulo. Outro exemplo vinha do morador da metade sul que em viagem à China, numa virada de esquina, topara com o vizinho também da metade sul. Amor vicinal, todavia amor. Mas como discorrer sobre contingência ao filho de quinze anos tocado pelo luto da mãe e o fim de um primeiro caso? No bloco opaco que o dano provoca tudo ficava claro demais e inútil demais. Sempre sobrariam perguntas, sempre faltariam respostas.

No âmago desejava evitar o assunto. Recordou o avô. Naquele tempo tudo era diferente. Havia laço de fita e exsudavam poemas de Bilac. Hoje tudo está mudado, tão mudado que confessar a diferença é algo simplório. É claro que o primeiro amor passa, avança, corre como as águas sempre correm. Segmento que nada sabe do antes, nem do depois. Lá estava no quarto sombrio dos quinze anos de idade. Ouvindo a própria alma para compreender o seu efeito. Enquanto pai, viúvo, percebeu que no campo da engenharia não sobravam metáforas. Decidiu prestar socorro verbal, mesmo utilizando palavras desconexas. Encontrou o filho quieto, diante de uma fotografia. Partiu para as palavras.

- Feche os olhos para não ver o que está acabado. Mas cuidado! A lua se desfaz na noite dos destroços, mesmo porque retorna sempre ao seu estado de lua cheia. Guarda essa parte. É o princípio do tesouro.

Ele sorriu dizendo.

- Mesmo sendo uma longa espera.