NOSSA CIDADE INTERIOR.

" Então, contemplei toda a obra de Deus e vi que o homem não pode compreender a obra que se faz debaixo do sol; por mais que trabalhe o homem para a descobrir, não a entenderá; e, ainda que diga o sábio que a virá a conhecer, nem por isso a poderá achar." Eclesiastes.

Precisamos cuidar com o maior desvelo de nossa cidade interior, o maior templo que habitamos, sem nenhum outro similar. Nele estão nossos valores cultuados e cultivados, acertados e burilados com cinzel dos avisados da grande escultura erigida na vida terrena, transcorrida a passagem pelos significativos nomes que nos deixaram o tesouro do conhecimento possível, desde a escolástica aquiniana com as “cinco vias”, tanto quanto as sebes da patrística que crescem para enriquecer nossa cidade interior. E poucos conhecem ou querem conhecer esses tesouros, e ficam indiferentes. Se compreende e resta justificável.

Mas lá está o maior nome sinalizador da compreensão e da paz única, sem unicismo ou unitarismo, Jesus de Nazaré, a indicar o “amai o próximo como a si mesmo.”

Para viver na paz da “cidade interior”, a consciência do que somos em utilidade, necessitamos amar ao próximo. Se não nos amamos, pejoramos e desmerecemos nossa cidade interior, nosso “eu” e sua fenomenologia existencial ,vivemos, parecendo ou não, o metabolismo da agonia. E como em um silogismo uma premissa maior envolvente assoma em não amar o próximo.

Há nessa estrada uma luz que pode ser achada com realidade e sem viés de margens apócrifas, verdadeiras e sutis, expectantes desse encontro necessário da realidade que afasta a hipótese para que não encene irrealidade do “não ser”. A hipocrisia de nossa “cidade interior” tem várias roupagens. Mas é requisito o desfecho de amar-se verdadeiramente para poder amar.

É preciso estar atento, lapidar a “cidade interior”, esmerar-se. É imperdoável aos sentidos diminuí-la, pois o homem de personalidade mínima preza-se. Desdizê-la e torná-la vulgar, credenciando-a ao demérito, adjetivando-a aos baixios mais rígidos, até sua ruína aos olhos do cosmos que vivifica, é aniquilar a luz que pode surgir. Nascemos para crescer, amar e ser amado.

O grande tribuno sacro Padre Vieira definindo as “Lágrimas de Heráclito” em carta ao Padre João Paulo Oliva, dizia: “Demócrito ria porque todas as coisas humanas lhe pareciam ignorâncias; Heráclito chorava, porque todas lhe pareciam misérias: logo razão maior tinha Heráclito de chorar, que Demócrito de rir, porque neste mundo há muitas misérias que são ignorâncias, e não há ignorância que não seja miséria”.

Não há maior maior gravame pessoal do que ser algoz de si mesmo, como o avaro que subtrai sua vida melhor, assim como o que se coloca em patamares de inferioridade. Amar a si mesmo é o refrão da Cristandade impositivo para que se ame ao próximo. Lágrimas são sangue da alma. E não as verte quem vive para amar o próximo como a si mesmo.

"Assim como tu não sabes qual o caminho do vento, nem como se formam os ossos no ventre da mulher grávida, assim também não sabes as obras de Deus, que faz todas as coisas." Eclesiastes.

Nosso território anímico é fraco por vezes e extremista sobre nós mesmos. Muito amor, egolatria, ou excesso de ódio por nós mesmos. Um pêndulo sem regras. Ufanias e rebaixamentos. Orgulho hoje, nada positivo no dia seguinte; rigores. Incorreção de conduta.Nenhum dos dois é correto. Se elevar ou se depreciar, irrazoabilidade.

Caminho do meio , o posso fazer ou não fazer qualquer coisa. O “tudo posso naquele que me fortalece” (Fp 4:13). Esse o Caminho.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 24/07/2018
Reeditado em 25/07/2018
Código do texto: T6398916
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