A FALTA DE SIMETRIA DAS HORTAS COMUNITÁRIAS

Assistindo fragmentos de reportagem sobre hortas comunitárias, no canal Globo News, clareou-me a ideia. Hortas devem ser desmilitarizadas. Escrevo isto porque militares são extremamente organizados, hierarquizados, alinhados ao extremo, nada de sujeiras, nem de desbotamentos.

Papai nunca foi militar, aliás, quando tentou sentar praça na Brigada Militar, segundo ele, o Coronel Médico reprovou-o. Você está com esta tosse, pegará uma tuberculose - disse ele. Assim não sei de onde veio aquele dom, de quer em tudo simetrizado. Alinhado e com distâncias padronizadas.

Em 1968, ele semeou couves e encarregou-me de confeccionar os canteiros e transplantá-las. Nada de tarefa fácil, cumprindo um gabarito confeccionado por ele. Um retângulo de aproximadamente 1,20 X 2,10 m, a cada 30 cm um preguinho, dos ditos 12 X 12, entre o prego de um lado e o do outro, um barbante. No canteiro-retângulo, cabiam 28 plantinhas. No meu primeiro transplante, coloquei-as sem observar o quadrante, então umas ficaram à esquerda e acima do barbante, outras à direita e abaixo, sem dó, papai arrancou-as e mandou que as plantasse novamente.

Mais quatro anos de horta e sentei praça na mesma Corporação, que o havia rejeitado. Uma vida toda de ordem unida,de tudo certinho, até na horta, mas ultimamente a natureza tem insistido que a harmonia das plantas não precisa de simetrias quadradas, nem retangulares. Ordem ratificada pela meia dúzia de hortas urbanas mostradas na matéria da Globo News, ou seja, um pouco de bagunça, de misturança não invalida a horta, parece que até favorece, pois oferece um variedade de opções aos insetos que a atacam e assim não investem somente nas couves, salsas e repolhos sobrando um pouco para nós. Já faz algum tempo que tenho misturado de tudo um pouco, agora intensificarem a miscigenação, serei a "Angela Merkel" da minha horta.