O MUNDO PERFEITO DO F*DA-SE

Na capa do livro “A Sutil Arte de Ligar o F*da-se” escrito pelo americano Mark Manson lemos: “Uma estratégia inusitada para uma vida melhor”. O livro está a várias semanas no topo da lista dos mais vendidos da revista Veja na seção de autoajuda.

Foi também de maneira inusitada que fiquei sabendo do livro. Li uma coluna dando destaque a um twitter do ex-presidente Lula dizendo que o leu e recomendava. Então, digamos que um anti-Lula ficou interessado.

Sim! “A Sutil Arte de Ligar o F*da-se” é um livro de autoajuda. Só que ao começar dizendo nem tente, felicidade é um problema e a dor é boa, soa como uma senha para aqueles livros que tentam fazer você atingir o sucesso e a felicidade através de mantras e pensamentos positivos, sejam queimados em enormes fogueiras.

Sim! O livro fala das perspectivas e dos parâmetros do sucesso e do fracasso. Na visão de Mark Manson um paradoxo. Para isso dá o exemplo de um baterista demitido da banda Metallica. Com ódio, decidiu se vingar criando sua própria banda. Vendeu 25 milhões de álbuns. Sucesso? Não para ele, que continuou com o sentimento de um fracassado. O motivo. A banda Metallica vendeu mais de 180 milhões de álbuns.

Se quando os cérebros dos homens das cavernas foram agraciados com o download da inteligência eles lessem os conceitos de Mark Manson, fatalmente a essência da nossa evolução seria diferente e melhor, sabendo que não somos especiais.

Hoje até podemos achar bonito o que Mark Manson escreveu. Às vezes, podemos concordar. Outras vezes, discordar. Impossível mesmo é colocar em prática todos os conceitos. O mundo perfeito do f*da-se não existe e nunca existirá. Imaginem o que pensaríamos de alguém que aparecesse pregando as “parábolas” de “A Sutil Arte de Ligar o F*da-se” com o livro debaixo do braço.

A essência que moldou os humanos das sociedades atuais jamais estará preparada para ligar o “f*da-se. Estamos infestados pelos carrapatos da arrogância, da inveja e do ódio. Somos vítimas deles. Abominamos as dificuldades orando pelas recompensas. Abominamos o processo orando pelo resultado.

Nossas sociedades ditas modernas são conservadoras e retrógradas ao extremo. Não se venderiam a esse mundo perfeito nem em troca de trinta moedas. Perfeitos são os nossos conceitos básicos da escravidão. Fome, guerras, crenças e certezas absolutas.

As últimas páginas de “A Sutil Arte de Ligar o F*da-se” são dedicadas ao nosso temor diante da mortalidade, deixando como dica “A Negação da Morte” de Ernest Becker. Talvez, esse temor seja apenas nossa arrogância nos instigando a sonhar com a imortalidade. E que o sonho pode ser real. A arrogância odeia um túmulo.