"Jazia. A sua face, antes intensa,
pálida negação no leito frio,
desde que o mundo, e tudo o que é presença,
dos seus sentidos já vazio,
se recolheu à Era da Indiferença" - Rainer Maria Rilke. A morte do poeta.
Poderia escrever e colocar adjetivos sobre quaisquer coisas nestas linhas. Gostaria de escrever sobre alegrias com cores de Almodóvar, sobre um lindo dia de praia no Leblon, gostaria de imitar o poema de Schiller que entoa no final da 9 sinfonia de Beethoven.
Mas não. Sinto-me mais próximo ao discurso do clássico livro "desassossego" de Fernando Pessoa ou sobre a insônia inspiradora que Clarice Lispector experimentava no seu apartamento no Leme vendo o quebrar indizível das ondas .Um discurso cheio de náuseas, entre tédios.
Corre entre meu cérebro o pensamento do suicídio. O fim da existência. Como vou escrevendo ao som dos noturnos de Chopin percebo que as notas são tristes, lânguidas, cheias de melancólicos trinados ao piano. Assim com esta vida.
Albert Camus disse sua famosa frase no início do seu livro mito de sísifo: “a única questão importante para a filosofia é saber se é válido ou não o suicídio”. Já que para o filósofo a tensão mundo e individuo provocaria o que ele chamou de absurdo, uma das formas de se acabar com essa relação “absurdista” era de eliminar o indivíduo. Todavia, Camus não achava legitimo o suicídio; seria, pois, preciso aceitar o absurdo da vida e transformá-lo em potência e novas significações. Como sísifo que aceita empurrar, voltar e continuar a levantar pedra ladeira acima- castigo que os deuses lhe impuseram.
Por anos, essa filosofia pareceu-me ter sentido.
Mas ao longo de tudo, ao longo dessas estrelas de brilhos escondidos, de todas essas noites cheias de gritos vou aceituando e aceitando o fim e querendo eliminar ,sim, o absurdo.
Talvez, consiga. Talvez, falte-me coragem. Mas por hora é isso. Nada mais quero. Nada mais escrever preciso.
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