Gente de bem.
Gente de bem.
Gente de bem é uma autodefinição de parte da população brasileira. É uma conceituação pretensiosa porque o vocábulo bem remete a ideia do belo, do perfeito que os gregos nos deixaram. Como falar até papagaio fala, vamos nos concentrar nas ações dessas pessoas, no comportamento delas. Tem um ditado popular que diz que a ação mostra o sujeito. O foco no comportamento nos ajudará a compreender quem são eles.
Bem, excelente, foi a situação em que Messi driblou a metade do time rival e fez o gol, se bem que ultimamente Messi não tem mostrado nada de excelente. Mas pode-se lembrar do gol de falta que Ronaldinho Gaúcho fez contra a seleção da Inglaterra na Copa de 2002, aquilo sim foi uma perfeição. Uma vez que falo de futebol, veio-me à memória que na Copa de 2014 a Gente de bem, que lotava os estádios, mandava a Presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, tomar no c... O grito de guerra era “Hei Dilma, vai tomar no c...”. O mundo inteiro viu esta ação capaz de ruborizar o mais indecente dos sujeitos. A ação fica mais reveladora ao lembrarmos que há 2.000 anos um Mestre muito conhecido dizia que aquilo que sai da boca, vem do coração.
Dizem que o apressado come cru, logo, não se pode contentar com um só exemplo. Lembro que a Gente de bem mandou confeccionar um adesivo com a imagem da ex-Presidenta, que colavam nas laterais dos carros, com as pernas abertas e sua genitália, cirurgicamente, adornando os tanques de gasolina de seus veículos. Não sei para o leitor, mas para mim não há nenhum bem nesta ação, ao contrário, um comportamento destes é capaz de corar de vergonha qualquer sujeito desavergonhado. A ação foi realizada para protestar contra o preço da gasolina que estava a R$ 2,70, hoje varia de R$ 4,20 a R$ 5,00 e pagam caladinhos. O comportamento não foi de todo inútil porque serve de mau exemplo e nos ajuda a compreender a noção de bem da tal Gente de bem.
Até esta parte do texto a noção de bem da Gente de bem parece ser diferente da noção de bem que os gregos nos legaram e de qualquer noção de bem que o prezado leitor tenha em mente. Outra ação frequente da Gente de bem é mandar para Cuba aqueles que pensam contrário à ideologia deles. É um comportamento que evoca gargalhadas, porque nessa “expulsão” está implícito que são donos do Brasil e mais brasileiros que aqueles que pensam contrário a eles, o que não é verdade. Costumam defender a meritocracia, mas iguais cegos não veem que a meritocracia só pode realizar-se se os oponentes tiverem iguais oportunidades. Colocar o Real Madrid para jogar com o íbis, o pior time do mundo, retira qualquer mérito da vitória do time espanhol. O que emerge do discurso meritocrático é uma intenção nefasta de manter os privilégios, mesmo que isto custe a vida de semelhantes em condições econômicas desfavoráveis. Igualmente emerge um medo de competir com pessoas de classes sociais mais baixas, que estejam minimamente preparadas. Sim, porque ao competir ganhariam umas, mas perderiam outras, logo, competir significa perder empregos e posições, secularmente, privilegiadas.
Vamos em frente, em busca desta estranha noção de bem. O leitor sabe que a Gente de bem defende a ditadura militar, o que significa defender a morte daquele que pensa diferente. Defendem ditadura de direita, de esquerda não querem, o que leva a pensar que se a concepção de bem deles é péssima, tolos não são. O pensador alemão Kant disse que somente as pessoas menores intelectualmente é que colocam a direção dos seus destinos nas mãos de outras pessoas. Voltemos à questão do bem defendendo a morte. Alguns descontentes com a recusa dos militares em assumir o poder, empreendem ações para eliminar os que têm projeto diverso do deles à nação. Este comportamento foi visto nos tiros que deram nos ônibus da Caravana do ex-Presidente Lula e também nos tiros, ás escondidas e de madrugada, que dispararam contra o acampamento Marisa Letícia no Bairro Santa Cândida, em Curitiba. Os tiros serviram de despertador para os acampados que estavam dormindo e indefesos. Igualmente, há notícias de que homens da Gente de bem, no interior do Rio Grande do Sul, chicotearam e agrediram mulheres que se dirigiam aos comícios da Caravana do ex-Presidente Lula, naquele estado.
As ações da Gente de bem muitas vezes parecem o discurso de Alice no País das Maravilhas. Gostam de arrotar: ”não temos bandidos preferidos”. Mas as ações deles evidenciam que tem preferências por algumas quadrilhas. Afinal de contas, quem foi que elegeu Beto Rixa, Aécio, Cunha, Alckmin, Paulinho da Farsa Sindical e inúmeros políticos de direita? Certamente, os eleitores de esquerda que não foram. Respondem que elegeram, mas não defendem. Ora eleger e reeleger diversas vezes alguém não é ter preferência e gostar deste alguém?
Das ações que foram e das que poderiam ser expostas no texto não emerge nada que se aproxime da noção de bem que os gregos presentearam à humanidade. Igualmente distancia-se de qualquer noção de bem que qualquer pessoa minimamente civilizada possa ter em mente. A concepção de bem que emerge das ações de pessoas da Gente de bem deixa qualquer sujeito torpe estarrecido e emerge uma certeza, é melhor manter distância dessa concepção de bem.